GABRIEL - CORAÇÃO DE GUERREIRO
CAPÍTULO 1: A CASA QUE A DOR CONSTRUIU
Em uma área de periferia no Leste de Austin/Texas, existe uma casa construída em 1930, onde grupos de viciados em heroína trocam suas próprias vidas por pequenos momentos de êxtase.
Essa seria uma “Crackhouse” comum, se não fosse uma Amarra demoníaca, conhecida como: A Casa que a Dor Construiu. Porém, Amarras não podem ser criadas ou destruídas diretamente por anjos ou demônios, isso viola as regras que impedem a Guerra de varrer toda a vida da face da terra. Por isso, Arcanjos precisam lutar em uma guerra lenta para induzir os mortais a fazerem isso por si mesmos. Porém, um grupo de Gabrielitas residentes do Texas decidiu que esta Amarra em particular estava indo longe demais.
Em suas formas humanas, o bando Gabrielita invade a casa à noite. Obviamente, a casa não era desprotegida e uma troca de tiros começa. O tiroteio alerta a vizinhança e com o tempo, a polícia é acionada. O conflito toma proporções que os Gabrielitas não esperavam, e inocentes acabam sendo feridos no fogo cruzado. Em desespero, um dos Gabrielitas acaba fazendo uma prece para invocar seu superior, o Arcanjo Gabriel.
O poderoso Arcanjo surge em sua armadura pesada e asas flamejantes. Em sua forma angelical, ele era invisível aos mortais, mas mesmo eles podiam sentir uma presença diferente de tudo o que já sentiram na área.
Criminosos dispostos a morrer por sua facção fugiam como morcegos da luz do sol, policiais corruptos que se achavam acima da lei, repentinamente começavam a repensar suas vidas e o que tinham feito delas, e os poucos tiras honestos presentes sentiam-se encorajados, sabendo de alguma forma que a batalha havia sido ganha. Porém, nem tudo era assim tão fácil, nem mesmo para o poderoso Gabriel.
O Arcanjo sobrevoava a área, e atravessava as paredes da casa como se elas fossem apenas ilusões, até chegar ao subsolo, onde diversos viciados jaziam à beira da morte, sujos em seu próprio vômito, urina, suor e fezes, aproveitando a última dose de prazer profano que puderam comprar. De pé, além deles, estava Mackie, o Senescal demoníaco da Amarra, utilizando um anjo que conseguiu capturar como refém.
Gabriel apontava sua arma para Mackie, que sorria, mostrando seus dentes pontiagudos como os de um tubarão, com a certeza de que o Arcanjo não ousaria ataca-lo. O anjo não era um Gabrielita, como os que estavam atacando do lado de fora, mas um Miguelita, um dos anjos mais antigos da cidade, e parecia ser a troca perfeita para que Gabriel o deixasse voltar ao inferno com vida.
Gabriel avaliava suas opções. O demônio estava em uma Amarra, então poderia teleportar-se para o Inferno no momento que desejasse, mas fazer isso deixaria a Amarra desprotegida. Se ele o fizesse, a Amarra seria perdida e seu Superior, Mephistófiles com certeza não ficaria nada satisfeito. Então ele utilizava o anjo como refém. Caso Gabriel fizesse o menor movimento em falso, ele destruiria o anjo. Isso não impedia que a Amarra fosse tomada, mas ele esperava apelar para a compaixão do Arcanjo.
Os segundos se tornavam eternos, e a situação remetia Gabriel a um momento em um passado muito, muito distante.
...
OFF: Vídeo meramente ilustrativo, nem tudo presente nele deve ser considerado.
A rebelião de Lúcifer havia estourado, abalando os alicerces da Criação. Muitos dos antigos Arcanjos haviam Caído e se aliado a ele, então outros eram chamados para ocuparem seus lugares, como o Kyriotate Uriel, Senhor do Fogo, o Malakim Raphael, Mestre da Cura e da Paz, o Ophanita Orphiel, Senhor da Morte, além dos Mercurianos Gabriel e Miguel, que apesar de fazerem parte da casta mais baixa da hierarquia angelical, se mostraram imprescindíveis na Guerra.
Em determinado momento da Guerra, eles foram encarregados de capturarem Apollyon, o Senhor do Abismo para encerrarem de vez o conflito. Apollyon era um dos principais generais de Lúcifer e sua derrota poderia antecipar a vitória do Paraíso e evitar muitos futuros conflitos.
Porém, em meio ao conflito, Apollyon acaba fugindo para sua fortaleza subterrânea. Os demais Arcanjos acharam que era mais prudente esperar reforços para sitiarem a fortaleza, mas Gabriel ignorou os avisos e invadiu sozinho a fortaleza, decidido a acabar de uma vez por todas com a Guerra.
Dentro da labiríntica fortaleza, Gabriel termina por encontrar Apollyon cara a cara, e o ataca. Em meio ao combate, Apollyon tenta desestabilizar Gabriel:
- Nunca havia sentido tanta ira e impulsividade em um Arcanjo! Ela o deixa mais forte, mas você a esconde de seus irmãos! Do que você tem medo?! Talvez tenha medo que eles vejam sua verdadeira face!
- EU NÃO TEMO NADA!!!
- Hahahaha, você ainda se tornará um de nós, Gabriel!
O truque de Apollyon parecia estar fazendo efeito, e ele começava a levar vantagem no combate, até que os demais Arcanjos surgem para auxiliar seu companheiro. Juntos, os Arcanjos conseguem derrotar e aprisionar o demônio, mas o ódio de Gabriel pelas palavras do adversário ainda tomavam conta dele e ele insistia em destruir o inimigo, sendo impedido apenas por seu amigo, Miguel.
- Acalme-se Gabriel, seja lá o que quer que ele tenha lhe dito, não deixe que o afete. Esse é o poder dele! Além disso, nós lutamos por justiça, não por vingança! Se você mata-lo, apenas estará provando que o que ele diz é verdade!
Então, Gabriel se acalmava.
- Você tem razão, as palavras dele me abalaram.
Então baixava sua espada...
...
De volta ao presente, Gabriel ainda estava em um impasse. Por alguma razão, a situação o lembrava do ocorrido naquele fatídico dia, deixar Apollyon vivo poderia encerrar a guerra mais rapidamente. Ele baixava a espada e com uma dor em seu âmago, pensava em repetir a mesma atitude que tomou naquela noite.
Mackie: - Vamos fazer um pequeno acordo? Você leva seus brutamontes para longe daqui, prometem que nunca mais nos atacarão e eu lhe devolvo esse canarinho de asas douradas. Aposto que Miguel ficaria furioso se voc...
Então a fala do demônio era interrompida por um rápido movimento de Gabriel. Mackie agia rápido, mas não o suficiente para esquivar-se. A poderosa arma o atingia em cheio, mas antes de ser completamente destruído ele ainda utilizava suas últimas energias em sua cartada final: enviar o anjo para o inferno.
Sim, deixar Mackie fugir ileso e abandonar a Amarra poderia salvar o Miguelita, mas e as tantas famílias que ainda seriam destruídas pela Casa Que a Dor Construiu?! Da mesma forma, deixar Apollyon viver poderia parecer a atitude mais sensata para todos, exceto para Gabriel...
...
Gabriel baixava sua espada e os Arcanjos se preparavam para levar Apollyon, até que a voz estrondosa do Arcanjo soava novamente:
- Sim, seu poder de persuasão o torna muito influente e derrota-lo pode minar o moral dos outros demônios...
Então, subitamente, Gabriel sacava sua espada, e antes que qualquer um dos presentes pudesse impedi-lo, ele partia Apollyon em dois.
Miguel: - O QUE VOCÊ FEZ, GABRIEL?!
Gabriel: - Se nós o aprisionássemos, ele utilizaria seu poder para influenciar o Paraíso por dentro, assim como fez comigo. Eu não poderia deixar que isso acontecesse!
Os outros Arcanjos ficam furiosos e dizem que Gabriel será julgado, mas em seu íntimo, ele acreditava ter feito a coisa certa.
...
Gabriel abandonava a Casa Que A Dor Construiu, e dizia aos seus Gabrielitas que a batalha havia sido ganha. As fundações da residência seriam destruídas, e com o tempo, a Amarra Infernal deixaria de existir.
Miguel com certeza não ficaria satisfeito com a atitude de Gabriel, assim como não ficou há milhares de anos antes, mas em seu íntimo, Gabriel novamente acreditava ter tomado a atitude certa e arcaria com as consequências.