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por Bravos Sáb Jun 26, 2021 11:42 amShinji podia sentir os olhos arregalados sobre ele com as decisões que pareciam precipitadas para alguém que tinha até então agido com muita frieza. Quando eles pararam no centro de Fez e o mercador saltou, sem dizer mais nada, Nagase olhou para os demais e deu o pontapé que faltava: - Andem, atrás dele! - Ele mesmo saltava do caminhão e se botava ao encalço. A primeira loja estava vazia já, a segunda também. Mas com o tempo a concentração de Shinji voltava e seus pensamentos iam se tornando menos turbulentos. Ele lembrou-se por fim de uma das lojas preferidas da esposa, ela deveria ter ido lá. O grupo avançava em passos rápidos no meio do caos. Quando abriram a porta, gritos femininos acusavam que só havia mulheres ali. Foi Nagase quem perguntou: - Viram uma mulher com uma garota sucateira? - Uma delas assentiu com a cabeça e apontou para fora. Ela indicou o caminho. Logo eles estavam na direção que foi dada. Shinji ia na frente, arma em riste. Os demais o cobriam. Virou uma esquina e viu dois grupos se encarando. Eles pareciam trocar provocações e ameaças. De longe ele percebeu ser um grupo de algozes e de apocalípticos. Seu coração quase parou quando viu Zuri servindo de escudo para os apocalípticos.
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[!ON!] Takahashi Shinji
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Shinji
Nem negaria que por um momento ele quebrou o decoro e a calma tão apreciada e valorizada pelos orientais, ele tinha medo de virar uma esquina de um beco ou ruela e encontrar o corpo de Zuri estirado, a cabeça entrava em parafuso junto e ele estava tomado por fúria e sentimento de urgência. Os olhos se arregalaram por um instante quando ele vê Zuri naquela situação, mas ele sabia que qualquer coisa brusca que fizesse faria com que eles trocassem fogo e ela provavelmente seria pega no fogo cruzado, ele pensa rápido e fala em sua língua natal quase como um sussurro. - - Nagase comigo, os demais tomem os telhados - ele diz apontando pra cima com o cano da arma, aqueles homens diferente dele e Nagase estavam acostumados a operar na sombra, ele tinha certeza que se tentasse aquela proeza não apenas seria descoberto como estaria arriscando a vida de Zuri e de todo o bando. Mas era óbvia a vantagem que ele esperava que eles obtivessem com a altura. - Ooooooe. - ele grita de longe, tentando chamar atenção e se aproximando devagar, mas deixava claro que estava nitidamente armado e com calibre grosso - Primeiramente ela é uma de nós, ela carrega nosso símbolo na cintura e na mão esquerda. - ele diz apontando a arma pro apocalíptico. - Isso quer dizer que você não vai viver se for além do que já está, mas ninguém aqui precisa morrer hoje. - ele age e fala como se tivesse total controle da situação, chega até desengatilhar o revólver previamente apontado pra cara do apocalíptico e olha pra quem parece tomar a frente dos Algozes - Essa guerra não é de vocês, eles também são da África, seja lá o que quiserem desde que eles mantenham seus corpos fortes pra lutar pela África e paguem o preço quem se importa certo? - ele nem se move, mas os olhos se movem de um lado pro outro como se esperasse algum tipo de acordo, do tipo que onde todo mundo sai vivo é melhor. |
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Eles entram no caminhão e Zuri desaba. Chora soluçando. Até agora ela tinha sido uma fortaleza. Ela passa alguns instantes assim. Então ela suspira e assoa o nariz. - O que foi que aquela vagabunda fez? - Shinji sabia até de quem ela estava falando. - Depois desse caos, como vai ficar o que você falou para o conselho? - Ela parece então lembrar de Keb. - Deixe alguém de confiança para pegar Keb e a mãe dela. Nagase, você pode ficar? - Ela está olhando para ele e ele para Shinji, com a cara de que não poderia negar. - Fez vai ser um inferno nos próximos dias, vamos ter que pensar bem antes de fazer qualquer coisa. Sem Boudiaf no comando, vão começar a correr pelo lugar dele. - Ela comenta, já recomposta, quando o caminhão já está rodando e quase saindo da cidade. |
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Shinji Os braços de Shinji envolvem o corpo da esposa, ele puxa a cabeça dela mais pra perto, a situação tensa, mas corriqueira na vida do clanista, ou quase isso, ele gostava tão pouco de ver a esposa no meio daquela bagunça quanto se podia esperar. Ele suspira, e abraça a esposa mais forte quando ela pergunta de Modi, a desaprovação vinda dele era palpável - Isso foi exatamente o que eu avisei ao conselho, eu só esperava que a gente tivesse mais tempo. - ele diz num misto de preocupação e decepção. Ouvir a esposa daquele jeito é de partir o coração, ir de contra é pior ainda. - Não, isso não está ao alcance de Nagase. - Shinji diz firme - Não é o papel dele. - A verdade que Nagase e Shinji não eram guerreiros, eles nem deveriam estar ali, a vida não era deles pra decidirem o que fazer, nem o serviço. No entanto ele não se dispõe a decepcionar a esposa daquela forma, ele se volta aos soldados do entreposto - A menina é vassala do clã, é nosso dever protegê-la tragam ela e a mãe dela pro entreposto, evitem conflito e caso algum imprevisto aconteça eu recompensarei suas famílias pessoalmente. - a voz séria, jogando o jogo pelas regras. -- - Nada, ela já arquitetou tudo, ou as coisas viraram muito em favor dela, o Falcão vai ser trucidado pelo chefe dos Algozes, a essa altura eles já acabaram com a maioria dos Neolíbios que importam, os Algozes nunca vão se enfiar em política pra serem um problema, os Anubitas também não, os Sucateiros não tem a menor chance… Acabou antes de começar. - ele diz com toda certeza do mundo, depois disso ele se cala e passa praticamente o resto da curta viagem calado. |
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Zuri lamuria com mais intensidade quando Shinji diz que Nagase não pode ficar ali. Ela sabia que não, mas era alguém em quem ela confiava. Como era de se esperar, o marido não a deixou desconsolada, destacando outra pessoa para ficar e levar tanto Keb quanto a mãe. Já recomposta, ela retruca sobre as idéias que ele tinha de que a coisa já havia acabado: - Os falcões tem a prerrogativa de mandar outro apocalíptico para lutar no lugar dele. E seja qual for o resultado dessa luta, o assunto estará acabado. Se ela quiser ser falcão aqui, terá que vencer o falcão atual numa disputa de lendas e histórias antigas. - Ela diz sem olhar objetivamente para nada. - É claro que uma balbúrdia dessas pode influenciar na concentração de alguém, mas na África, para ser falcão, é preciso ser sábio. Talvez o adversário de Córdoba seja demais para ela e resolveu tentar aqui em Fez. - Era até estranho pensar que os apocalípticos decidiam algo que não fosse através da força física e jovialidade. * * * Quando estavam de volta à montanha, parecia que os dois poderiam respirar. Eles mal haviam chegado e sequer tinham dados vinte passos para longe do caminhão, um homem se curvava ligeiramente diante de Shinji. Era um mensageiro da família Fuji. Ele tinha um minúsculo rolo de papel que lhe foi entregue: "Agora Tucano de Córdoba concordará sobre vir a Fez sob sigilo?" - Fuji Maki parecia disposta a pressioná-lo, no fim das contas. |
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Shinji Shinji não era alheio aos sentimentos de Zuri, mas ele confiava nos demais homens tanto quanto em Nagase, a diferença era que eles eram treinados pra lutar, os caminhoneiros não, ele sabia que o conceito de irmandade, o sentimento de nacionalidade era ainda muito alheio a esposa, entender a política dos Asashina e em como eles não eram donos das próprias vidas era difícil, o próprio ato de Shinji ter ido buscar a esposa seria por muitos considerado uma afronta, mesmo que houvesse bravura, mesmo que ele estivesse acompanhado de mão armada capaz. Shinji sabia como funcionava a disputa, mas se o homem decidisse lutar? Ele não interrompe a esposa, ele na verdade esperava que surpresas viessem, Modi era do tipo que sempre tinha uma carta na manga, ele nem era diferente, mas ele complementa. - Ela provavelmente já tentou e falhou. - só quem tinha visto a mulher de perto poderia afirmar tal coisa, Shinji não tinha a menor dúvida disso. *** Antes de sair de perto do caminhão Shinji se curva a Nagase - Obrigado Nagase San, seu sacrifício pra mim não tem preço, fico te devendo uma. - Shinji parece contente. Shinji se curva ao sujeito com a mesma cortesia, por dentro ele se perguntava o que tanto os Fuji queriam com aquela pressa toda. - Providenciarei isso assim que o conflito em Fez terminar. - ele diz de forma o mais objetiva possível, não tinha intenção de enrolar aquele encontro, mas dado as circunstâncias seria impossível, ela possivelmente nem estava em Fez, talvez só os homens dela, talvez ela só tivesse comprado muitos apocalípticos locais pra fazer aquela bagunça toda, nem dava pra saber, mas qualquer coisa era possível. Na verdade tudo que queria naquele momento era algum descanso e um chá quente. |
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Shinji estava na banheira. Pensando sobre tudo que havia acontecido. Sentiu o toque das mãos de Zuri em seus ombros, massageando-os suavemente. Mesmo na suavidade, era dolorido. Muita tensão havia sido depositada ali ao longo daquele dia. Parecia que havia começado a semanas. - Eu também vou precisar de uma massagem. - Ela disse com uma voz sussurrada que normalmente seria carregada de sedução, mas hoje era apenas cansada. - Pedi a Miyo-sama que recepcione Keb e sua mãe. E que comece a tratá-la. - Às vezes era admirável como Zuri conseguia articular coisas em pouco tempo. Eles mal haviam chegado. Miyo era uma senhora versada nos tratamentos medicinais. Ela costumava ficar no entreposto, onde cuidava dos casos de infecção ou ferimentos chegados de viagem. Tudo para evitar que alguma doença entrasse de fato na montanha. Zuri dá a volta na banheira, entrando de frente para Shinji. Era ligeiramente apertada para os dois, mas ela não parece se importar. - Pode começar pelos pés. - Ela leva o pé esquerdo em direção do marido. * * * Já no quarto, Zuri começa a servir um chá. Ela nem perguntou se queria. Ela sabia. Pelo cheiro, Shinji sabia o que era: uma erva de uso comum dos anubitas que induzia relaxamento e alterações sensoriais. Algumas vezes até alucinações leves. Ela costumava preparar nos dias mais estressantes. Não houve um só dele que não acordasse revitalizada.
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Shinji Um gemido perdido entre dor e alívio da tensão, vinda de um dia que ele não queria que se repetisse jamais, sentir as mãos da esposa nos ombros era um privilégio que ele poderia não ter mais aquele dia, a cabeça pende pro lado até os lábios acharem a mão dela, um beijo estalado em seguida. Shinji não se pronuncia verbalmente, apenas assente com a cabeça e a segura em uma mão conforme a conduz pra dentro da banheira, ele aprecia cada detalhe do corpo escultural de Zuri, mas parece tão cansado quanto ela, os dedões das mãos pressionando do centro pras partes externas dos pés, um de cada vez, sem pressa, ele puxa ela mais pra perto, um beijo doce e carinhoso nos lábios, ele a conduz pra se sentar entre as pernas dele e dessa vez devolve o favor nos ombros. - A mulher vai ficar inteira? - ele pergunta com uma certa curiosidade - Seria bom ter gente de dentro que sabe como o caminho da brasa funciona, eu não sei se as coisas vão piorar ou melhorar com Modi, mas a gente provavelmente vai ter acesso, vai ser importante minar o esquema dela e ganhar controle, a ponto de que isso possa servir de seguro pro clã. - como sempre a cabeça do clanista tentava trabalhar muitos passos a frente, talvez aquilo fosse até agradável pra esposa escutar, ninguém podia negar que Modi era uma mulher fisicamente espetacular, mas nem de perto o oriental parecia morrer de amores por ela. *** Zuri sabia que raramente Shinji se rendia a qualquer droga ou anestésico além do álcool, mas naquele dia ele certamente precisava de algum calmante e uma boa noite de sono - Claro. - ele diz meneando em positivo, mas a verdade é que nem sabia como aquela coisa funcionava esperava que pudesse dormir até o dia seguinte de manhã. |
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- Está perguntando da mãe de Keb ou de Miyo-sama? - Ela sorri de forma provocativa. - Miyo saberá se cuidar bem. Já a mãe de Keb... Não dá para ter certeza, depende de quanto a sépsis se alastrou no corpo dela. - Ela também geme baixo com a massagem sem pressa nas costas. - Se ela se recuperar, talvez ainda possa ser de serventia para isso... Algumas vezes a sépsis estraga a capacidade de pensar das pessoas. Vamos torcer que não... - Ela passa um instante parada, olhando para o nada. - Se ela melhorar mesmo, poderá até evitar que os usuários virem léperos. Testemunhos de mudança de vida são inspiradores. - Shinji nota que Zuri não pareceu reagir ao nome da apocalíptica. * * * Enquanto o líquido quente ia escorrendo garganta adentro, Shinji podia sentir seu aroma. Era bastante floral. Ele deita na cama e começa a sentir os músculos relaxando. Os sons que vinham lá de fora pareciam soar mais graves e distantes. Então ele ouviu gotas de chuva. Sentiu uma no rosto. Abriu os olhos. Via a mão de um anubita segurando algo como um mapa. Uma risada histérica no fundo ia crescendo até parecer vir de todos os lados. A imagem da mão desapareceu diante dos seus olhos e tudo que ele podia ver era a silhueta escura da floresta. No meio dela um volume metálico, já sem brilho depois de tantos anos. Uma porta se abre, como se duas folhas corressem para os lados, um vulto parecido com humano. Um passo, dois, e ele se ergue no ar. Se ergue no ar voando. Shinji vê ele cruzando o céu até que pousasse. No pouso ele ouviu o som de motores e metal. * * * Quando abriu os olhos, Zuri já estava de pé, se trocando. - Dormiu bem? Você se mexeu muito durante a noite. - Ela diz olhando para Shinji através do espelho. |
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Shinji Shinji sorri com o comentário engraçadinho de Zuri - As duas eu acho. - ele responde de forma jocosa pra completar a piada, ele parece meio desapontado quando a esposa fala dos possíveis danos permanente que a droga poderia causar - Por isso mesmo eu fico longe, não quero trazer vergonha pra minha família. - eram palavras duras, mas que não transmitiam metade do sentimento verdadeiro, mas nenhuma novidade pra Zuri ali. O oriental parecia se importar pouco com a história que a mulher podia contar ou quem ela poderia salvar, mas ele concorda com a esposa só porque aquilo nem é importante pra ele, e querendo ou não Zuri parecia ter se afeiçoado a Keb bastante rapidamente. *** A sensação inicial era boa, melhor que álcool ele nem queria se render muito a aquelas coisas, e até mesmo desencorajava a esposa ficar presas a qualquer tipo de vício, mas uma vez nem ia dar problema, pelo menos ele acreditava que não. Sentir o corpo afundar na cama é bom, mas o sonho não, as imagens mais reveladoras do que ele gostaria, era estranho, tão real, tão vívido que nem deveria ser um sonho, mapa era o mais importante, ele não entende muito de resto, mas ele ouve o motor, um somo que não era de caminhão, ele vê as alturas, só podia ser o que ele estava procurando. *** Ele se levanta ligeiramente confuso, de forma atípica, ele futuca nos mapas, ele nem acreditava muito no vodú dos Anubitas, mas era melhor prevenir do que remediar, ele olha o próprio mapa tentando identificar o que havia visto no sonho, não dava pra ter certeza, só sabia que era no sul e em mata densa, ele tenta se lembrar exatamente o tipo de vegetação, Sul não era um lugar que eles estava acostumado a viajar, significava cruzar o centro da África, a ideia era sempre meio desinteressante. Ele demora mais pra responder a esposa do que o de costume, ele nem mesmo a beija inicialmente como fazia todas as manhãs. Ele larga o mapa de lado e a abraça por trás lhe dando um beijo carinhoso na nuca - Uhum. - mas não fica muito tempo, ele entra pro banheiro que nada mais era do que uma fossa onde as coisas escorriam montanha abaixo por canaletas previamente feitas pra isso. O que separava ele de Zuri agora era um biombo na frente da passagem - Os Anubiutas tomam esses chás pra sonhar certo? Esse negócio tem haver com as plantas assassinas? O quanto desses sonhos ou visões são confiáveis? - O ceticismo de Shinji não era nem um pouco estranho a Zuri, ele perguntar se era possível ser verdade por outro lado… - Eu tive um sonho estranho essa noite com o Sul, um sonho que não parecia ser sonho… - Ele comenta com a esposa enquanto tira uma “água do joelho” sentado de maneira relaxada. |
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- Hum... - O tom indicava que ela não parecia crer exatamente na resposta do marido, mas também não disse mais nada. Ela continua a se vestir. A voz de Shinji vem do banheiro e ela responde também de onde está: - Esse é um chá apenas para relaxar. Se toma quando as preocupações viram doença. - Ela aparece na porta, já pronta. - Nada de psiquívoras nesse chá. A ingestão de psiquívoras mata na hora, você sabe... Só com a iniciação no caminho de Anúbis protege o anubita. Mas sim, normalmente se sonha. Alguns dizem que são presságios, há videntes por todo lado para te falar sobre isso. - A última frase vem com uma sutil provocação. - Com o sul? Esqueça então, foi de onde Nagase veio e foi atacado. Já temos problemas o bastante aqui. - Na mente do negociante ainda estava os mapas que havia marcado. De fato, Nagase fazia mais rotas para o sul do que ele. Ele poderia ter visto algo? Algo que confirmasse aquelas imagens oníricas? Zuri olhava para ele. - Não leve tão a sério. - Ela dizia aquilo por também ser cética ou apenas não queria que ele fosse para o sul e corresse o risco de voltar num caminhão cravejado de balas? |
- Ankou
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Shinji - É eu sei, mas vai que eles colocam alguma esquisitice no chá? - Não fazia aquilo por maldade, nem pra desacreditar a esposa, era só a desconfiança aguçada do clanista sendo chutada conversa a dentro - Besteira! Eles só querem seu dinheiro! - definitivamente não gostava deles - Porcaria de videntes. - as últimas palavras saem num resmungo quase inteligível - Não é que eu não ache que alguns deles não tenham o dom, só acho que a maioria deles são um bando de safados… Aquele sujeito na festa no entanto, aquele cara era pra valer. - ele diz se levantando, se ajeitando brevemente e seguindo pra fora do banheiro. - Relaxa amor, eu não quero colocar a minha vida na reta de perigo nenhum, a sua muito menos, já me chega o susto de ontem pelos próximos cinquenta anos, mas confesso que fiquei intrigado, vou ficar de olho no sul as coisas vão se acalmar por lá. - sempre se acalmavam, não dava pra viver em guerra pra sempre. Ele se aproxima dela de novo - A gente vai ter um dia cheio, a essa altura tem um monte de gente querendo correr de Fez e eu tenho um caminhão vazio pra fazer mudança, além disso a gente tem que ir buscar Adimu e Heb, achar a Modi Pavão e eu ainda preciso passar no hospital, maaaaas - o tom muda de objetivo e meio jocoso pra algo malicioso e sedutor - A gente sempre pode agendar quinze minutos pra gente e começar o dia bem. - o sorriso, o toque e os beijos entregam bem rápido o que ele quis dizer. *** Shinji já tinha suas roupas de estrada no corpo, não eram novas, mas pelo menos agora cheiravam bem, vantagens de se voltar pra casa, o plano era simples, pegar o pacote de medicamentos que deveria apresentar no hospital em Córdoba, encher o caminhão com qualquer coisa que pudesse fazer dinheiro e partir o mais rápido pra lá. |
- Bravos
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- O que seria uma esquisitice? Algo que você não conhece? - Ela retruca, sabendo que é mais por implicância do que para de fato discutir. - Eu conheço um vidente fajuto só de olhar para ele. Você deveria conhecer também. Basta ver se há quatro círculos concêntricos em torno do umbigo... Se não houver, nada feito. - A conversa flui e ele diz que eles terão um dia cheio. Ela sorri travessa quando o tom de voz dele muda. - Já que teremos tanto trabalho assim, é melhor iniciar aquecidos. * * * Shinji vai até o hospital da montanha. Era lá onde estavam os medicamentos que eles tanto resguardavam e que foram o motivo de permanecerem mesmo depois do Escatón. Um grupo que não morria de infecção nem de febre. Que não ficavam infestados de sépsis até se tornarem léperos. Os anubianos entendiam de medicina, mas a coisa deles acontecia de forma inescrutável. Era algo que reagia em seus próprios corpos. Nos Asashina não, eles detinham conhecimentos antigos e, ainda que nem tudo fosse evidente, eles conseguiam reproduzir seus remédios com confiabilidade. Kogane Kanko era o responsável pelo gerenciamento dos remédios. - Vai precisar de tudo isso? - Ele questionava não tanto pela quantidade, mas pela extensa lista de medicamentos diferentes. - Isso tem a ver com o interrogatório? - O mandato do conselho de anciões era também uma carta branca. Doutra forma, dificilmente permitiriam levar tantas 'amostras grátis'. |
- Ankou
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Shinji - Uhum - ele responde só de raiva. - Eu poderia pintar até uma espiral do avesso. - a voz sai num tom blasé, de quem parecia pouco ou nada interessado, e logo é substituídas por um olhar ferino, mãos bobas e o corpo empurrando o dela em direção a cama enquanto os lábios se ocupam do pescoço. * * * - Kanko-San, bom dia. - ele diz com um tom relaxado e pacífico, os cabelos ainda molhados do banho matinal. Ele meneia em negativo sobre a pergunta dela de ter haver com o interrogatório - Isso tem haver com o conselho ter pedido pra gente vender o excedente, a gente produz muito mais do que usa, não que eu esteja reclamando, é bom ter tempos de paz né? - ele diz de uma forma que parecia que nada poderia estragar o dia dele, era tão óbvio o que tinha acontecido que ele parecia mudar da água pro vinho. - Isso significa favor com os Anubitas e os Algozes, dinheiro, mas o comprador quer uma amostra grátis do que a gente faz, nada mais honesto. - ele sabia que a ordem da mãe dele pegar os remédios nem precisava ser explicada, ele poderia passar por cima da autoridade de Kanko, mas era melhor assim, causava menos atrito - Se nesse meio tempo algum dos outros mercadores conseguir um acordo, seria bom esperar pra ver se eu consigo engatilhar essa coisa toda ou não, talvez eles queiram pro hospital inteiro de Córdoba, se for o caso, qualquer outro acordo não cumprido ou mesmo o meu vai manchar a nossa imagem… - ele não diz mais nada, dá de ombros, achava que ela tinha entendido o recado. Ele toca nos frascos alguns deles gelados - Quais desses precisam de ir no congelador? - ele pergunta parecendo desanimado, mas por dentro dando pulos de alegria porque finalmente poderia requisitar um pequeno refrigerador pro caminhão. * * * Ele desce a montanha com o dia planejado na cabeça, só encontra Zuri no meio do caminho - To mó triste, vamo ter que colocar um frigobar no caminhão. - ele diz com um olhar travesso. No entreposto ele requisita uma bateria nova pro refrigerador e o próprio que ele instalaria e chumbaria na lataria ao lado da cama - Zuri procura a Keb pra mim. - ele diz logo antes de começar. |
- Bravos
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- Sempre bom viver tempos de paz... - Kanko retomou. - Ainda que a maioria de nós está assustada com o que aconteceu em Fez nesses dias. Você acha que isso foi apenas momentâneo? - Ele diz separando a lista de medicamentos que o comerciante havia pedido. - Anubitas e Algozes representam a alma e as garras do leão. É bastante coisa. - Shinji já havia ouvido aquela metáfora incontáveis vezes. Os neolíbios eram o coração do leão. Será que bastaria estar alinhado com duas das três facetas da África? - - Você que me diz... Por enquanto os medicamentos são o bastante para nós e para o comércio. Nossa produção poderia até aumentar se tivéssemos a quantidade de sucata necessária pra fazer mais máquinas. - Kanko não parece querer decidir o destino dos medicamentos, a não ser do que lhe cabe administrá-los. - Mas as ruínas ficam tão longe... - Sua última frase tem um toque de desalento, de talvez alguém que já tentou e não conseguiu. - Os imunizantes. São os que perdem qualquer eficácia se esquentarem demais. - Imunizantes eram utilizados para proteger as pessoas antes mesmo de sofrerem as doenças.
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- Bravos
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O caminho até o hospital era conhecido e subir até a sala onde ele havia encontrado Ebomona da outra vez foi algo simples. Ela, não surpresa, não estava em sua sala. Ao perguntar para uma ou outra enfermeira, soube que ela estava cuidando dos ferimentos de um açoitador no último andar. Shinji esperou por quase meia hora até a porta se abrir e o semblante suado da anubita se apresentar diante dele. — Oh... - Ela emite, genuinamente surpreendida. — Está de volta, clanista? Espero não tê-lo feito esperar demais. Se importa se eu...? - Ebomona visivelmente ofegava um pouco. Com a anuência do Asashina ela iria se afastar um pouco para tomar um ar e então voltar. — Vamos lá, não irei desperdiçar mais seu tempo. - Ela o chama até uma outra sala naquele mesmo andar, praticamente idêntica àquela que Shinji já conhecia, o que o fazia se perguntar se ela teria uma daquelas em cada andar. — Seu amigo Heb esteve aqui ainda hoje. Ao que tudo indica, encontraram um psiconauta no caminho. Mas ele estava surpreendentemente bem para quem o fez. Normalmente se não estão destroçados no corpo, estão na psiquê. Especialmente aqui em Córdoba. - Ela comenta. — Então, o que trouxe para mostrar?
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- Ankou
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Shinji Durante a espera o clanista procura café ou qualquer outra bebida de parecido teor, ele anda de um lado pro outro no hospital, era sempre importante fazer alguma network, a enfermeira aparentemente desocupada, um dos Algozes que vigiava o local, até mesmo o despatriado esperando uma consulta, todos eles eram potenciais recursos. Quando finalmente reunidos ele diz com a cabeça que não, mesmo não sendo exatamente verdade - Claro, tome seu tempo, vou pegar outro café. - ele diz cordialmente, não estava verdadeiramente se importando com a demora Ele a segue pra outra sala - O que eu posso dizer, o sujeito é feito de aço, eu aposto que ele ainda tem aquelas ampolas de Sangue que tu me deu de cortesia. - ele diz sem seriedade nenhuma na voz. - Direto ao ponto, do jeito que eu gosto. - ele diz olhando pra mulher com um olhar ferino, ele puxa um papel do bolso ne discorre um monte de nomes pra ela, nomes que não deviam lhe fazer nenhum sentido, no final ele é mais tenta resumir aquilo tudo - O importante é que os imunizantes tem de ficar refrigerados e tem uma validade média de seis meses, os anestésicos provavelmente são o os mais interessantes pra vocês, morfina e fentanil, o primeiro é usado quando as coisas estão ruins o segundo é do tipo que faz o cara com joelho pra fora ficar rindo, eu já vi isso e não é nada bonito, e você não quer destrancado porque nem tem uso recreativo, mas os dois vão permitir cirurgias, ambos injetáveis, eles tem especificações - ele estende o papel em direção a ela - Infelizmente isso está bem longe da minha expertise, mas tenho certeza que você tem equipamento e conhecimento pra lidar com isso. - a confiança no funcionamento da coisa toda parecia inabalável. |
- Bravos
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Enquanto Shinji fala, Ebomona manipula os frascos. Observa os líquidos dentro deles. Ela já havia encontrado coisas parecidas. Nas mãos do Corvo. Aquela não costuma ser a medicina africana. O clanista consegue ver o cenho da anubita se franzir enquanto aquelas coisas passavam por sua cabeça. — Parecem bons, efetivos... Claro que só dá para saber testando. Mas... - Ela parece hesitar um pouco antes de perguntar. — Como conseguiu isso, Shinji? Como seu clã escondido no topo de uma montanha consegue preparar esse tipo de coisa? - Ela se ergue e leva os remédios que ele havia dito que deveriam permanecerem resfriados para um pequeno refrigerador. Provavelmente três vezes maior que o do caminhão, mas ainda assim pequeno para um hospital. Talvez houvessem mais em outras salas. — Eu já vi coisas assim, mas nas mãos dos Spitalianos. Eles eram ricos desde antes do Escatón. Desde antes o mundo acabar e ser reconstruído. Desde antes da sépsis existir ou mesmo as psiquívoras. - Ela se volta então para o Asashina mais uma vez. — Como vocês tem acesso a isso? A resposta virá, ainda mais porque Ebomona parece disposta a escutá-la, dure quanto durar.
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- Ankou
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Shinji Num primeiro momento tudo que Ebomona tem do asiático é silêncio, uma cara sonsa, num primeiro momento ele hesita até - Meu trabalho não é saber dessas coisas. - as palavras saem humildes como se fosse algo fora da competência do clanista. A mulher insiste, ele respira fundo - Eu acho que tu já respondeu sua própria pergunta, provavelmente é coisa de uma origem similar a dos Spitalianos, conhecimento de antes do Escatón, mas eu posso te garantir que não tem nada haver com Borca, o clã não tem nenhuma relação com o Corvo, nem mesmo comercial. E eu posso garantir a validade dos medicamentos, as vacinas eu já tomei todas, os analgésicos menores também. - ele se aproxima de um dos frascos o toma e coloca em cima da mesa, a coisa toda cheia de pílulas brancas e redondas - Esse aqui é bem bom pra dor de cabeça. - ele comenta deixando o frasco lá trás. - Os médicos conseguem até tratar contaminados, se a infecção não for muito avançada, a maioria usuário de brasa, mas eu não vou saber te dizer os pormenores, meu conhecimento em medicamentos e medicina é bastante limitado e metade do que eu falei pode não estar exatamente certo. - as mãos vão parar dentro dos bolsos da calça, numa postura relaxada e tranquila. - Pode fazer seus testes, é possível que eu passe alguns dias na cidade vamos ver, mas eu passo aqui antes de voltar pra Fez. - ele meneia com a cabeça em positivo em forma de cumprimento e para na porta - Ah, o pagamento pode ser em dinares ou sucata o que for mais fácil pra vocês. - ele deixa pra trás uma piscadela e um sorriso de canto charmoso, confiante de que nada aquilo iria vacilar. |
- Bravos
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Shinji vê Ebomona arquear as sobrancelhas quando ele levanta a possibilidade de ter sido conhecimentos pré-Escatón. Dúvida? Incredulidade? Surpresa? — Seria uma grande sorte. Me admira que esses medicamentos não tivessem chegado aqui anteriormente. Não ter nenhum neolíbio de olho em financiá-los. - Talvez a anubita não tivesse o mesmo entendimento de negociação do clanista, mas para ela não parecia possível que um boicote fosse plausível só porque o clã Asashina não era exatamente africano. Shinji já havia negociado com pessoas o bastante para saber que não só era possível como provável. — Sua experiência é válida, mas não para mim. - Ela diz com um sorriso, como se houvesse visto exatamente o que ele havia feito. — Boticários charlatões sempre existiram. - Um riso simples. — Ministrarei os medicamentos esses próximos dias e anotarei as reações. Se fecharmos, o pagamento há de ser em dinares. Sucata é um recurso difícil de ajuntar nessas terras. * * * Três dias depois, um recado da anubita o chamava de volta ao hospital. Ela lhe relata os efeitos positivos dos medicamentos e diz que falou com os financiadores do hospital. Tudo que eles precisam é ajustar o contrato.
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