[!ON!] Meados de Abril

Aquela definitivamente não era a noite do nosso venerável - porém nem tão adorável - Fae. A situação acabava se invertendo mais uma vez, e sua paciência milenar descia cada vez mais ladeira a baixo. Sua tentativa de estourar os miolos de seu inimigo como um verdadeiro e feroz guerreiro se dava por terra quando o neófito facilmente se esquivara de sua investida e contra-atacava arranhando a face de sua máscara humana e de suas caras e finas roupas.

Tal desonra, se vista por outros Fae, talvez colocasse em xeque não só sua posição privilegiada na corte da Primavera, como também sua reputação como um membro honorável e respeitado na sociedade Faérica, então já podem imaginar a reação de Arkell com tudo aquilo.

As veias de seu rosto até o pescoço saltavam tamanha fúria e revolta, e o Fae gritava com todas as suas forças tentando buscar alguma chance de se desvencilhar de seu agressor e contra-atacar sem piedade. Contudo, antes que pudesse investir contra o transformado, uma mão pelosa com garras enormes segurava o vampiro e o lançava para longe de Arkell. Era Balthazar, enfim concentrado naquela batalha e justificando o pagamento de uma de suas dividas.

Com as roupas todas rasgadas, o Fae era ajudado pelo lobisomem a por se de pé novamente, porém sem tempo para conversas e planos estratégicos de ataque. A vampira líder não estava disposta a se render, o que era louvável de sua parte, talvez ela estivesse pensando no legado de seus compatriotas sangue-sugas e nas ordens impostas por sua princesa, se responsabilizando até não ter mais forças para lutar a fins de proteger seus aprendizes, mas o fato era de que Arkell também faria de tudo para captura-la para poder alcançar seus objetivos. E ele sempre alcançava.

A vampira líder então tomava uma atitude ousada, porém tosca, já que não possuía o conhecimento necessário para não cometer tamanho erro. Ela puxava a sagrada espada dos Fae de dentro de seu tórax e a empunhava, na ideia de ataca-los com "seu próprio veneno" por assim dizer, uma atitude lamentável para a destemida serva de Thordis, cujo motivo precisamos voltar algumas eras no tempo para compreendermos melhor.

No auge da sangrenta e inescrupulosa grande guerra entre os vampiros e os Fae, que daqui em diante chamaremos de "Cruzada Faérica", os mestres ferreiros Fae, que eram extremamente conhecidos como os mais habilidosos não só do próprio Vale, mas de todo o universo, recebendo pedidos até de outras raças existentes, trabalhavam frenética e exaustivamente, dia e noite, noite e dia, para suprir as vastas necessidades de seus bravos guerreiros contra a terrível tirania vampírica. Dentre eles, um se destacava.

Seu nome era Annatar, o mestre dos presentes. Era conhecido assim por não apenas forjar as melhores e mais preciosas armas, mas também por criar verdadeiras relíquias abençoadas pela divindade máxima Fae. Sim, a mesma que possui uma belíssima representação no mosteiro das promessas, previamente citado em nossa história. As peças começam a se encaixar e a fazer mais sentido, não? Pois continuando, seus abençoados "presentes" apesar de raros e de difícil fabricação, consumindo uma quantidade considerável de recursos, eram poderosíssimos e inestimáveis em batalha. Ou seja, o que era a base para a vitória, também reduzia os recursos naturais do Vale.

Somente os melhores entre os melhores guerreiros recebiam tal honraria de seus presentes, e vós já podem imaginar qual fora um deles. Arkell ficara famoso entre os Fae, assim como sua irmã mais nova Faduil, esta que terá destaque quando for conveniente para este que vos escreve. Mesmo não pertencendo ou herdando sangue nobre dos reis e rainhas das tais cortes, atraia olhares de seus superiores, pois ao fim de cada batalha vencida, ele era avistado banhado em sangue de inúmeros inimigos vencidos, e parecendo inquebrável, aumentava muito a moral das tropas com sua atitude vingadora.                 

Tamanho destaque chamou a atenção da então princesa da corte da Primavera, Lythain, que demonstrando sagacidade, recomendava a Annatar lhe conceder uma poderosa relíquia a fins de criar um verdadeiro líder santo entre os guerreiros, empunhando a esperança da Deusa contra os hereges e infames vampiros de Drácula. O ferreiro então utilizou de sua grande maestria mágica e abençoada para moldar o metal mais raro e precioso do Vale, um metal que reluzia tanto quanto a luz do sol, que purifica seus adoradores e condena os inescrupulosos, conhecido como "Galadril". Reza a lenda de que este metal fora enviado pela própria divindade em forma de meteorito, ou talvez um coração de uma estrela caída, muito antes do próprio Annatar ter nascido, e uma vez no Vale, com o tempo acabou se expandindo em veios cavernosos, até ser encontrado pelos mestres ferreiros em sua busca feroz com a necessidade das iminentes guerras.

A relíquia forjada então fora entregue ao - na época - jovem Arkell, que a nomeou na linguagem Fae - desconhecida e secreta - de "Springbreaker", uma clara homenagem á corte que lhe acolheu. A espada possui uma lâmina tão branca quanto vidro leitoso, brilhando na escuridão e refletindo luz para guiar seus companheiros. Nunca perde o fio, permanecendo mortal mesmo após milhares de anos. Mas a sua benção não parava por ali, pois ela era especial por ter propriedades graciosas e sagradas, sendo assim, nenhum ser que não seja tão puro quanto os Fae podem empunha-la. A espada rejeita usuários indignos tanto quanto os demônios fogem da cruz. E por ultimo, mas não menos importante, causa muito mais dano aos vampiros, afinal de contas fora forjada justamente para extermina-los.

Bom, tendo isso em conta, vós podem compreender o porque de a vampira empunhar tal esplendor em forma de arma fora um erro crasso. No momento em que ela teve a intenção de utiliza-la para atacar seu próprio dono, a espada brilhou e queimou suas mãos violentamente, fazendo-a a largar imediatamente ao chão. E aquele momento era perfeito para a investida de Arkell, ação que o mesmo tomara sem nem pestanejar ou pensar. Correu em direção a espada e a recolheu, sentindo um calor reconfortante, como se a espada estivesse feliz em voltar as mãos de seu mestre.

- Você não é digna, sujeitinha de sangue ruim. - Falou para  a vampira antes de lançar mais um ataque, procurando novamente um movimento em arco de cima para baixo a fins de decepar o braço da mesma.

Enquanto a espada caída no chão, um sorrisinho sarcástico surgia no semblate do Fae. A vampira não sabia que arma era aquela e por isso tentou usá-la como se fosse qualquer coisa. Arkell esquivou-se com agilidade entre os lobisomens e os dois vampiros para alcançar a espada caída no chão. Esticou-se para pegá-la e quando se ergueu, um dos lobisomens quase colidiu com ele, vindo pela esquerda. O fae notou que havia ficado entre um dos homens de Balthazar e um dos neófitos. - Filho da puta! - Ouviu o lobo xingando e percebeu que aquele movimento dele permitiu o vampiro se afastar.

Ele correu beco à fora, e nenhum outro lobo conseguiu alcançá-lo. Até porque o que tentou correr atrás foi parado pelo comando de Balthazar: - Pare! Ele já foi, foquemos nesses dois. - Arkell entendeu que o problema não era esse, mas, na perseguição, ficar às vistas dos mortais em sua forma híbrida. Ele soube também que aquele vampiro que corria, um dia viria a dar problemas para ele. Seu próximo movimento abriu um rasgo na pele gelada do outro neófito.

Quase ao mesmo tempo, os lobos subjugavam a vampira 'líder'. Os lobos estavam um tanto ofegantes, mas pouco feridos. Arkell também havia saído quase ileso. Mas trocar golpes era algo mortal. - Espero... que você tenha um ótimo motivo... para essa merda toda. - Disse com uma voz enfraquecida a vampira. - E... que tenha muito culhão pro que vem. - Era admirável como algumas pessoas eram inflexíveis mesmo quando visivelmente partidas.

- Vercingetórix... Nós temos companhia. - Escutou Balthazar dizendo seu 'nome' e sentiu a mão dele encostando em seu ombro. Ele já não tinha mais a aparência meio-lobo-meio-homem. Apontou para a saída do beco, luzes vermelhas e azuis. A polícia estava estacionando.

No meio das batalhas, por menores que possam ser, o melhor era cuidar de si mesmo primeiro e depois o resto, pelo menos era isso que Arkell pensava. Ao recuperar sua relíquia sagrada, acabou pondo um dos capangas lobisomens em desvantagem perante um dos neófitos, o que fora suficiente para o mesmo escapar para longe dali. "Ainda estamos dentro do plano..." - Pensava o Fae, mas no fundo sabia que aquela fuga poderia prejudica-lo a longo prazo.

Mas aquela não era uma hora para pensar, e sim, em agir. Restavam ainda mais um neófito e a líder vampira, esta que ainda se recusava a se render mesmo após tamanhos ferimentos. Arkell girou sua espada ao ar e realizou um corte em diagonal, rasgando parte do transformado e o tirando definitivamente da disputa. Balthazar e o resto de seu bando terminavam de render a vampira restante.

- Excelente, agora tragam-a para mim e se livrem daquele déchet. - Ordenava e indicava sinalizando com a cabeça para que os lobisomens colocassem os restos do neófito em uma grande lixeira aos fundos do beco. A vampira, ao ser trazida para perto de "Vercingetórix", continuava rígida em sua postura e ainda dizia que seu caçador sofreria com as consequências daquele ato. Arkell ria daquilo que considerava uma tamanha zombaria.

- Eu sou Vercingetórix, eu inventei este termo. - Então Balthazar lhe avisara que os tiras estavam na área. Teria o transformado fugitivo os avisado? Bom, se quisessem continuar com o plano, deveriam agir rápido.

- Vamos por dentro da boate, ninguém vai se importar com mais uma bêbada sendo ajudada por seus amigos. - Arkell então dava o sinal para se reagruparem e entrarem na boate, fazendo o caminho contrário em direção ao carro. O Fae ainda cobria os ferimentos da vampira com um paletó de um dos lobisomens.  

Os lobos seguiram com o trabalho sujo deixando para trás o corpo definitivamente sem vida do vampiro. Procurando um meio de passar desapercebido, o Fae os mandou voltar para a boate e, se dispersando, fazer o caminho oposto ao carro. Quando entravam na boate de novo, carregando a vampira como se estivesse bêbada, eles ouviram as sirenes.

Os olhos de Arkell correram o espaço viu os policiais entrando dentro pela porta da frente. Um burburinho começou quando a música parou e mandaram acender as luzes gerais. Vozes de reclamação e gritos de xingamentos começaram. Voltar não parecia uma idéia plausível, se alguém houvesse denunciado uma briga, a polícia estaria parada bem na saída do beco.

Balthazar estava logo do lado dele, meio que abrindo caminho para ele passar com a 'amiga bêbada'. - Fodeu viu, vamos precisar sair todos daqui. Se formos revistados com cuidado, vão notar que éramos nós no beco.

Off: Possivelmente há dois movimentos que você queira dar uma olhada agora, um deles é Confundir, distrair ou enganar e o outro é Escapar de uma situação. Para escapar de uma situação você precisa de criar uma oportunidade, que possivelmente será com o movimento confundir, distrair ou enganar. Veja como pretende fazer isso

Perseus ia atrás de Nympha meio confuso com a rapidez das decisões da colega. - Você pretende mesmo falar com Corta-Garganta logo depois de supostamente ele ter brigado com algum outro grupo dentro do seu território? - Aquilo poderia ser perigoso, talvez... Ou quem sabe chegar para falar naquele momento de crise pudesse ajudá-los a tirar mais do líder lobo. Provavelmente só saberiam se o encontrassem.

- Eu já o vi algumas vezes num restaurante vietnamita perto do convento de São Tiago. Talvez ele esteja por lá... - Disse sem muita certeza o oráculo. Mas Nympha estava decidida e eles seguiram para aquele local. O estabelecimento chamava atenção por ser vermelho num quarteirão praticamente de muros claros. Lá dentro o ambiente era quente e cheirava aos temperos asiáticos. Havia poucas pessoas no local, uma das mesas, com mais de uma dezena de pessoas chamava atenção pelo fato de fazerem pouco barulho, bem o contrário do esperado de uma mesa tão grande.

- Aquele é Corta-Garganta.


Off: Você ativou um movimento no turno passado, era pra eu ter pedido a rolagem, mas passou desapercebido. Role o movimento Botar cara num Nome. Como Corta-Garganta é um lobo, faz parte dos Noturnos, você rola com essa Facção. Marque essa Facção na sua ficha também.

Era lógico que os policiais não fariam seu trabalho direito, e ao invés de partirem direto para o beco, adentravam a boate para estragar a festa da galara fazendo perguntas. Tolo era o Fae por não prever os "talentos" dos officiers de police.

Arkell respirou fundo depois das palavras de "incentivo" de Balthazar e lhe disse:

- Bom, foi pra isso que trouxe este bando de arruaceiros, não é mesmo? - Então pegava a dormente vampira dos braços do lobisomem e concluía. - Crie uma distração, jogue algumas garrafas nestes idiotas, sei lá, assim eu poderei fugir com esta coisa aqui e depois pagarei a fiança de vocês, não é como se fosse a primeira vez que sujam suas fichas, certo? Faça isso e posso esquecer sua outra dívida. - Caso Balthazar prosseguisse com o plano, Arkell tentaria passar pela confusão com a vampira e sairia da boate até seu carro.

Off:  Quero testar "Convencer um personagem não-jogador" em Balthazar para convence-lo de criar uma distração - com o bônus da cobrança da dívida - e depois "Escapar de uma situação" para tentar fugir dali com a vampira.

-Ok, monsieur... - Os olhos de Balthazar correram pelo salão. Quando encontraram um de seu bando, ele acenou com a cabeça. Aquilo bastou para que imediatamente o rapaz desse um esbarrão numa pessoa aleatória. Dada aquela situação, isso gerou um tumulto. Os policiais começavam a gritar pedindo ordem e as pessoas tentando se afastar, caíam uma por sobre as outras e tudo ficava ainda mais caótico.

Arkell aproveitou aquela agitação para começar a se dirigir à saída, contornando a parte mais tumultuada. Alguns momentos era difícil seguir em frente pois aparecia novas confusões que desencadeavam por motivos tão banais e idiotas quanto a primeira, que fora proposital. O Fae já estava perto da saída quando um policial o interpelou: - Ei, você, arrête-toi! - Apontando o cassetete na direção dele.

O policial deu então dois passos na direção de Arkell e no terceiro, uma pezada o acertou na altura do peito, fazendo-o cair no chão e, consequentemente, começar uma gritaria. Balthazar acertou-lhe o tórax como se pretendesse andar por cima dele. O Fae viu de canto de olho o Lobo olhando para ele, sabia que agora lhe deveria uma. Ainda mais quando os policiais que estavam à porta passaram por Arkell e a vampira sem incomodá-los e se precipitaram sobre o Lobo, golpeando-o. Ela já não revidava.

Quando pisou do lado de fora da boate, Arkell tratou de se afastar o mais rápido possível, sem olhar muito para os lados, como se estivesse muito ocupado com sua 'colega alcoolizada'. Chegou até o carro momentos depois.

Off: Conta ai onde vc vai e o que perguntará à vampira Não haverão testes para isso.

Balthazar podia ser apenas um lobisomem arruaceiro de baixo escalão, mas até ele entendia o valor de se ver livre de dividas e ainda possuir uma com o venerável Fae, portanto concordava com o plano pré-estabelecido por Arkell e começava a confusão. O Fae então seguiu rápido com a vampira em direção para fora da boate, pois não tinha muito tempo, os vampiros estavam se movimentando por debaixo dos narizes dos Fae já á algum tempo e sabe-se lá o que estavam planejando de verdade.

Um dos policiais ainda tentava atrapalha-lo, mas Balthazar mais uma vez o auxiliava em sua fuga, chutando sem dó o pobre oficial da lei. Arkell então colocou a vampira deitada no banco de trás do carro antes de arrancar com ele para longe dali. Parou em um beco qualquer para então atar as mãos e os pés de sua refém e também colocou um capuz na mesma, a fins de se certificar que não corresse riscos.

O rumo final então se dava por sua casa, uma das mais - se não a mais - antiga residencia daquela região. Arkell guiou o veículo por uma via alternativa, e acessou uma das entradas subterrâneas do local, chegando em uma espécie de "catacumba" de tempos imemoriáveis, onde era sua base de operação, e também onde guardava seus bens mais valiosos. Atirou a vampira de dentro do carro sem nenhum cuidado e retirou o capuz, a revelando um local úmido e gótico, com grandes pilares de pedras ornamentados em uma arquitetura bem antiga, mas extremamente cativante. Pelo menos era o que o Fae achava.

- Vou perguntar apenas uma vez, então se quiser sair viva daqui e voltar para sua falsa princesa, sugiro que colabore. - Então com a vampira ainda ao chão e atada, o Fae puxou de uma mesa rústica de madeira perto dali algumas ferramentas em aço inoxidável, claramente algo que pudesse ser utilizável para realizar torturas.

- Qual o plano dos vampiros contra os Fae? E quem será o novo Drácula?

Quando largou a vampira no chão, Arkell viu que ela não iria durar muito mais. Talvez alguns minutos. Seus olhos estavam turvos e ela não parecia mais enxergar verdadeiramente. - Contra os Fae? Então a história de Vergin-sei-lá-o-que era mentira... - Ela engasgou com algo que deveria ser seu próprio sangue e cuspiu para fora. - O próximo Drácula será Duncan. A esta hora ele já deve estar despertado... Ele foi Príncipe de Paris durante a Idade Média.

A voz da vampira ia ficando cada vez mais fraca. - Alguns acham que será um tempo de expansão territorial... Mas não dá para saber, dependerá da vontade de Duncan. Quer dizer... Alguém matou uma harpia da Príncipe e pelo menos um dos seus neófitos. Alguém vai pagar por isso.

Será que Arkell havia apressado coisas que ainda iriam demorar? Talvez ele tivesse agido cedo demais. Lembrou das palavras de Lythain. A vampira gemeu. Ela morreria se nada fosse feito.

- Achei que você já tinha essa parte planejada... - Disse Perseus antes de puxá-la pelo cotovelo e fazê-la sentar numa mesa. Sentaram na diagonal da mesa onde estava Corta-Garganta e seu bando. Todos na mesa comiam avidamente em silêncio. Um garoto com seus dezesseis anos se aproximou dos dois, com um sotaque muito forte perguntou o que desejavam. Perseus olhou para Nympha e arqueou os ombros, indicando que não conhecia a comida que serviam ali. - O que sugere?

O garoto revirou os olhos e disse: - O Pho é o prato mais típico, uma sopa com carne, vegetais e macarrão de arroz... Ou então um Bánh mì, um sanduíche na baguete. - Perseus pediu pra si o Pho. O garoto esperou a moça pedir antes de se afastar gritando em vietnamita o pedido.

- Já estamos aqui, talvez a melhor coisa seja perguntar a ele o que aconteceu naquela... Ou de repente se ele sabe algo sobre as pichações. - Perseus estava sentado de costas para a mesa dos lobos, deixando que a maga tivesse uma visão mais privilegiada. - Se formos conversar com ele, eu posso tentar tocá-lo para tentar ler seus pensamentos superficiais.

Off: Talvez você queira dar uma olhada no movimento Compreender Alguém lá no tópico Leis não-escritas das Ruas.

Arkell arqueou a sobrancelha ao ouvir da boca da vampira a insinuação de mentira. Por mais que ele realmente havia armado uma estratégia de enganação, ter sua persona insinuada por um ser que tanto odiava e desprezava era algo extremamente repugnante. - Está me chamando de mentiroso?! - Dizia em alto e bom tom para ela. A sorte - ou azar dependendo do ponto de vista - era de que a vampira estava em situação muito precária, e muito provavelmente não duraria mais que alguns minutos se continuasse naquele estado. Portanto Arkell teve de se controlar para não matá-la naquele momento e por todo o seu plano por água a baixo.  

Lógico que o Fae já se antecipava a isto, pois não era de seu feitio correr riscos desnecessários em seus planos, por isso deixava sempre algumas bolsas de sangue humano em uma espécie de "geladeira de hospital" a fins de garantir que suas presas não viessem a falecer antes do tempo. - E é Vercingetórix sua idiota. - Respirou fundo e a deixou continuar com suas respostas, estas que, confirmavam as informações que jovem Fae lhes passadas anteriormente, naquela breve reunião no começo de nossa história.

- Duncan é? Se ele fora um príncipe naquela época e depois não foi mais, não me parece algo inteligente voltar no que deu errado, mas exigir inteligência de seres como vocês, bem, realmente não seria correto de minha parte. - Então esbanjava um grande sorriso sádico, como de um predador que possui tamanho poder sobre sua presa e a desdenha veemente. Então a vampira, cada vez mais fraca, continuava explicando que os vampiros esperavam - com o futuro aval de Duncan, é claro - expandir seus territórios, algo que fez o venerável Fae enrijecer sua face, em total desaprovação daquelas ideias. Ela também encerrava por enquanto dizendo que alguém pagaria pelo ataque contra eles, uma clara ameaça de alguém desesperado por vingança.

- Ah... Mas você não vai morrer, nunca te disseram? - Então o Fae se distanciava um pouco da moribunda vampira, largando suas ferramentas de volta a mesa - a sanguessuga parecia estar cooperando por enquanto - e se dirigindo até uma geladeira, de onde recolhia uma bolsa de plástico com um liquido avermelhado como conteúdo. - Achei estranho você não ter sentido o cheiro, deve estar bem mal mesmo... - Dizia rindo de canto de boca, antes de levar a bolsa até a vampira e colocar um cano relativamente comprido em sua boca para que a mesma pudesse sugar o líquido. Nenhum vampiro, por mais que a situação fosse ruim, recusaria uma mera gota de sangue. Um vampiro recusar sangue, era como o mesmo recusando sua imortalidade, uma "dádiva" que os mesmos tanto adoravam. - Existem coisas bem piores do que a morte. - Disse e retirou o cano - era o suficiente para ela se manter viva - cortando aquele tão saboroso alimento, aquele elixir da vida para a vampira. - Talvez você possa me dizer seu nome, pois confesso estar em desvantagem já que sabe o meu. - O Fae não daria o braço a torcer admitindo e revelando sua verdadeira forma nem que a vampira em sua frente fosse a princesa das princesas. - Voltando ao que importa, o que vocês sabem sobre um tal de mosteiro?    

Off: Quero fazer o teste "Botar cara num Nome" para tentar descobrir algo sobre Duncan.

Se tivesse alguma força, a vampira teria rido quando Arkell a perguntou se ela o chamava de mentiroso. Mas ela apenas fez silêncio, até que ele voltasse a perguntar do novo Drácula. - Você não entende nada... - Ela quase não completou a frase, porém, prosseguiu: - Quando são muito antigos... os vampiros devem entrar em torpor para diluir seu sangue... Duncan foi Príncipe até o Renascimento, quando entrou em torpor voluntário... E agora ele acordou e recebeu o título de Drácula.

Da segunda vez que a vampira falou aquele nome e o estabeleceu num tempo cronológico, lembranças foram acessadas na cabeça de Arkell. Duncan... Anos atrás, séculos atrás, Arkell precisava trazer um carregamento do Líbano para Paris. As guerras naquilo que viria a ser a Italia estavam acontecendo e impedindo o trânsito por terra. Foi um nobre, Duncan, que 'se ofereceu' para resolver seu problema. Ainda se lembrava de quando havia entrado no seu pequeno palácio, que hoje seria pequeno diante da mansão que o Fae morava, mas que na época era bastante impressionante. Era noite. Alguém lhe havia feito uma 'ponte' até aquele nobre que lhe era desconhecido.

O encontro foi rápido e Monsieur Duncan disse-lhe que lhe traria seu carregamento sem perguntar-lhe nada, sem lhe cobrar nada, ao instante. Naquela época as circunstâncias eram apertadas e embora fosse ficar devendo, era estritamente necessário que viesse aquela carga. Tantos anos se passaram sem a cobrança daquela dívida que o Fae já a havia esquecido. Dívidas. Poucas coisas são eternas nas cidades. Dívidas são uma delas. Sua mente voltou ao presente com a tosse engasgada da agonia da vampira.

Deu-lhe uma bolsa de sangue. Não era o melhor alimento, mas era alguma coisa. A aparência da vampira melhorou, ainda que permanecesse péssima. - Por que eu diria meu nome para você? - A altivez daquela vampira era admirável. Ou talvez ela já nem esperasse sair realmente viva e estava tentando morrer de cabeça erguida. - Mosteiro? Você fala do esconderijo dos Faes? Há vários vampiros que ligam para essa briga, há outros tantos que não... Eu não ligo. Thordis não quer saber disso por agora. - Essa era a atual Príncipe de Paris. - Mas... Os que se importam acham que Duncan liga.

O panorama se pintava. Velhos rancores demoravam a sumir e apenas esperam uma oportunidade. Uma desculpa. Opiniões diversas e vontades conflituosas. Arkell iria bater primeiro ou iria esperar?

Off: Pode contar que carregamento era esse, qual sua importância e porque ele precisava chegar tão rapidamente. Pode adicionar novos detalhes desde que esses não desfaçam o que o movimento ditou

Arkell anotava as informações que a vampira lhe passava em um caderno com capa de couro avermelhado. Achava importante conhecer cada vez melhor o seu inimigo a fins de não ser surpreendido quando algum embate de fato acontecesse.

- Interessante, continue por favor. - Dizia á mesma, com um tom assertivo de alguém bastante interessado naquilo que ouvia.

Puxando de sua vasta memória, o nome Duncan, adjunto com o suposto período de atividade do vampiro citado, o trazia de volta a uma época onde um certo Monsieur lhe fizera um favor, este que mesmo dizendo que não cobraria nada, o Fae realizava que nenhuma boa ação ficava sem cobrança. O favor era de transportar uma carga especial do Líbano até a França e Duncan facilitara aquilo, já que várias vias estavam indisponíveis devidos a certos confrontos históricos.

A carga nada mais era do que alguns suprimentos em falta naquela época em La France, como alimentos e remédios, que seriam "doados" ao povo de suas terras, por isso o Fae precisava com urgência contrabandeá-los por vias seguras ao longe do alcance das autoridades francesas, estas, na época, rivais políticos de Arkell.

"Espero que não seja o mesmo Duncan, mas caso seja, o favor que farei a ele será envia-lo de volta ao mundo dos mortos, aliás de onde nunca deveria ter saído." - Pensou. A vampira então se recusava a dizer seu nome, era relutante em demonstrar boas maneiras, ainda que tivesse total motivos para tal. Sobre o mosteiro, ela desconversava contando que tinha certa noção do que ele era, mas de que não eram todos os vampiros favoráveis ao ataque a santidade Fae.

- Esse mosteiro é importante para os Fae então? - Disfarçava Arkell. - Bem, partimos para a segunda parte. - Dizia antes de fechar o caderno e guarda-lo em uma das várias e extensas e altas estantes, estas que forravam as vastas paredes de pedras do local. O Fae então carregou o corpo da vampira adentro, até uma espécie de circulo iluminado ao chão, onde alguns ganchos eram suspensos por correntes até o teto, que detinha uma espécie de claraboia circular, de onde vinha a luz lunar que iluminava o circulo no chão em meio a escuridão. Prendeu-a nos ganchos, cravando-os em sua carne, de modo a deixa-la suspensa a cerca de um metro e meio do chão e de frente para ele. Pegou uma cadeira e se sentou, encarando a vampira que sofria cada vez mais.

- Thordis é a favor de Duncan? Existe algum grupo de vampiros que não o apoia? - Então o interrogatório continuava.