Corredor

Antes que eu possa me aproximar da banheira Morgana por um instante me dá um susto, que vira medo e quase pânico...
Muito aterrador... Um misto de vergonha com estranhamento me paralisa quando ela se aproxima e abre parte das minhas roupas para devolver a carta da forma mais atirada possível com um sorriso nos lábios.
Ela age como se sequer Davyd tivesse existido... e noto que aquilo preocupa todos ali... Ela parece ignorar que isso aconteceu, na verdade ninguém disse diretamente que ele esta morto para ela.
Deco me sussurrou e Lana apenas disse que sentia muito...a garota não perguntou o porquê.
Como ela consegue dar mole para alguém em uma situação como essa?

Mas dadas as circunstancias cada um lida com o luto e a aflição de forma diferente.
O  que dizer de Lana lidando com tudo com risos de forma completamente isolada de qualquer diálogo... Enquanto uma ignora o namorado morto, outra se declama em monólogos, nos acusando de fazermos monólogos.  

Apesar dessa indiferença com a morte do estudante de Direito, Morgana por mera percepção acertou sobre que haviam duas pessoas aqui não ofereciam riscos...
Ela provavelmente me diria que são os espíritos Cherokee quem a informaram, mas como cético eu discordaria em silêncio, respeitando sua fé.

Talvez por essa percepção ela possa descobrir sobre essa banheira, se há algum tipo de armadilha.
Estranhamente, pela mudança no tom de voz de Lana em suas palavras seguintes, ela parecia perceber que me incomodei com ela começar a rir depois de dizer que não ligava para nada do que eu disse.
Eu paro e penso que precisava concentrar-me melhor para ocultar minhas expressões faciais, pois tentei me esforçar em ocultar o que pensei.

Mesmo eu tentando evitar dizer qualquer coisa sobre o comportamento insano dela para não a ofender como ela me ofendeu, ela percebeu isso... Quase como uma telepata.

Mas isso tinha seu lado bom, significava que apesar de tudo ela tinha empatia e conseguia perceber o que estavamos sentindo... Por um instante eu retiro da mente meu julgamento dela me parecer uma cretina egocêntrica com alguma carência afetiva como imaginei antes.

Mas no momento seguinte ela volta a falar as mesmas coisas que Deco e eu dissemos antes e que enquanto ignorava chamou de "conspiração"e "teorias mais simples para entender o mundo" sobre a possibilidade de todos nós estamos sendo manipulados pelo uso de drogas ou indução, mas agora tenta descrever uma droga específica. Tento de novo falar sem expressar em momento algum minha aversão pelo comportamento dela, sobre a incoerência do que ela esta dizendo.

-Você precisa se decidir Lana, se acredita que é uma histeria coletiva ou se tem de fato um zumbi na banheira. Para mim até agora é tudo um show de luzes para nos ver mortos...

No fundo... Parece que só eu estava duvidando realmente de que tudo isso estamos passando seja real.
Afinal, alguém viu como eu abri aquela maldita porta cheia de correntes?

-Morgana... Querida... Consegue saber se há alguma coisa perigosa nessa banheira?

Ela é boa nisso.
Sei lá porque ela é, mas é. Por quê não a deixar tentar só de olhar?
Só porque ela esta ignorando o luto?
Já vi pessoas agirem assim antes, indiferentes para depois desabarem em lágrimas...
As vezes dias depois.
Talvez algum dos outros também sejam bons em saber se é uma boa ideia mexer nessa coisa.
Não há porquê em nada do que esta acontecendo.

Quando fragilizada Morgana pede minha ajuda, apenas aceno com a cabeça que sim.

De novo não entendia porque tamanho descontrole por parte de Lana. Só pedi para ela não entrar no buraco.
Imagino que talvez seja porque o corpo de Davyd não era algo belo de se ver...

Noto que Mari tenta se inclinar em ajuda-la e animar a ruiva.

-Relaxa, Lana. Como já te disse, você pode ser a única que teve a mesma ideia de Deco que nada disso é sobrenatural, mas saber disso não é o bastante. Alguém esta brincando conosco para cometer outro assassinato... Por isso ignorar as pistas não ajudam ,então levante-se! Você tem um bastão, deveria estar pronta para golpear algo que pudesse vir daí... Mari, tem cadeiras na outra sala, pegue uma. Provavelmente pode usa-las para golpear caso haja algo aí dentro que seja perigoso...

Paro, ainda com o braço sendo segurado por Morgana que olha para banheira com fedor pútrido. Meramente faço sinal para Bárbara também se aproximar e segurar minha mão também.

-Então, Morgana? Pronta?

Ainda com duas ou mais pessoas dentro desse espaço um Mae Gueri (chute frontal em japonês) bem chutado distrairá se algo nos atacar. E se fizer isso tenho de fazer antes dos golpes das meninas, que tem mais alcance.

DIA 21, 4 horas e 13 minuto da tarde

Aquele frio na barriga... Quem teve medo na vida, um grande medo, que endurece o corpo, mas ao mesmo tempo parece frágil, sabe como é. Ao tirarem a lona sobre a banheira estava o corpo de Ricardo coberto de sangue, a água da banheira misturada ao sangue fazia parecer uma piscina de tinta vermelha aquarela, mas, "como?" poderiam pensar. O rosto dele era sereno apesar de tudo.

Imagem Ilustrativa (+18):

Não teria como evitar que o susto do improvável faria alguém gritar pelo nome dele e Bárbara correria para acreditar com seus próprios olhos. Ela desaba de joelhos no chão, incrédula do que seus olhos acabavam de ver – Meu irmão... poooor quê??? –, dizia em prantos.


Alguns suspeitavam do envolvimento dos irmãos com as coisas perturbadoras ocorridas, juntamente com as informações recém-descobertas, mas, agora, com o "Rick" morto, talvez isso fizessem questionar se há algum motivo para tudo que acontecia ou simplesmente a sorte dos dados deu falha crítica para esses jovens.

[...]

Uns e poucos minutos depois, todos começam escutar vozes de uma menina, dizendo como se estivesse perto de seus ouvidos e ao mesmo tempo longe, ecoando pela sala:




"Mais um morto..."




A sanidade de vocês era testada, manchas pretas começam a surgir pelas paredes, pouco a pouco tudo apodrecia de tal maneira que a podridão avançava pelo teto e pelo chão tentando alcançá-los, restando fugir até o banheiro, talvez aquele buraco fosse o único caminho a seguir.


Bárbara continuava de joelhos no chão como se não percebesse o que acontecia.

Loucura...

Puxo Bárbara pela cintura e fecho a porta atrás de nós com a outra mão.

-Mari, me ajuda com a Barbie! Deco, me ajuda a escorar a porta! Os demais vão pelo buraco!! Agora!

Deco eu poderiamos conter algo que viesse tempo suficiente para as garotas saírem.

Lana estava certa em querer parter.

Recebo surpreso o beijo de Morgana, pouco tenho tempo para responder isso, depois Deco pega um bastão de Lana.

O rapaz inverte a trágica morte de Dom Quixote com razão, não estamos enfrentando uma fantasia e sim algo realmente perigoso se confrontarmos de frente.
Ele fala sobre relógios

-A parte de cima da privada, vamos jogar para segurar a porta e sairmos pelo mesmo buraco! Rápido!

Faço uma alavanca para segurar a porta e corro para o buraco.


-Agora me siga.

E vou para o buraco.