Arco Africa - (Kenya)

Depois de ser jogada no chão, Liz se levanta. Um pouco atordoada pela pancada, olha para o moço de chapéu.

- Senhor, sei que não lhe conheço, mas poderia fazer o favor de cantar? - Morgana dá um pequeno sorrisinho, tentando ser simpática mesmo com a raiva que estava sentindo de toda aquela situação.

Põe-se em posição de ataque, ainda afastada do mascarado que ria como um maluco. Permaneceu quieta, em silêncio profundo, apenas olhando para o mascarado como se estivesse enojada com aquele homem em sua frente. Pega em sua mão apenas uma adaga, e atira na direção dele, mirando em sua cabeça.

Sivirino ainda estava impressionado com a habilidade com adagas daquela garota que acabara de conhecer, já que mal podia acompanhar com seus olhos o movimento das que eram lançadas contra o inimigo. Mas ele conseguiu evitar os ataques com um bastão, tanto os de Morgana quanto os de Sivirino. Somente isso seria afronta suficiente para o nordestino aumentar ainda mais sua ira, mas ver seu inimigo empurra-lo para longe e  preferir atacar uma mulher que estava mais afastada do que seguir o ataque naquele homem que segurava uma peixeira à sua frente, fez seu sangue ferver mais que o sol que queimava o solo árido de sua terra natal.

- Seu fidumaégua !!! Exclamou enquanto girava no ar.

Ao cair e se levantar, viu que o bandido realmente estava disposto a ferir a garota e que já havia começado aquela ato de desonra. Sivirino iniciou novamente sua corrida em direção ao homem, que já o encarava de frente chamando-o para luta. Arqueanva seu movimento para que atingisse o homem na parte lateral de seu corpo como uma flecha humana, pois inclinou todo seu corpo para frente em meio à corrida e pôs a Pexera apontada também para frente, como a ponta de uma lança. Queria perfura-lo, mas seu principal objetivo era empurra-lo para longe da garota que já estava ferida.

- Homi froxo, vai vê o qui homi di verdadi, vindo do sertão, faz cum cuvardi metido a curajoso.

Quando ficou perto de se encontrar com o corpo do adversário, próximo a seu ouvido, gritou.

- E meu nome é pau no seu Lombio, seu disgramado do Satanai.

O homem do sertão parecia responder com o mesmo tom de insanidade que Jason 22, como se quisesse comparar quem ali temia menos pela própria vida.

Depois de atacar, errando ou acertando, respirou um pouco, esperando para ver onde seria o próximo ataque do inimigo mas, se surpreendera com o pedido da garota que já se levantava do chão.

Sorriu ainda com um pouco da adrenalina de seu ataque.

- Ói... eu num custumo cantá prá cualqué uma não...  Rozinha pode inté ficá inciumada, mai si fó ajudá nessa peleja, eu solto o fole.

Com sua voz grave e rouca, gasta pela vida mesmo que ainda jovem, Sivirino entoou uma canção, recitando tanto a letra quanto o ritmo base.

Música:

Com o seu bastão de Hóquei Jason 22 arrebatou mais uma das adagas de Morgana, já o golpe de Sivirino veio com potencia, e acertou no ombro de raspão do vilão que teve de saltar para trás antes de evitar perder uma parte do corpo, o sangue encharcou o ombro da roupa de Jason que ria feneticamente.

Ele então girou novamente seu bastão colocando-o de lado e encarando o adversário, logo Jason 22 sentiu uma dor na perna, e viu uma adaga fincada nela, quando fora aquele ataque, o vilão não percebeu:

- Parece que vocês são mais habilidosos do que eu pensei, foi por isso que meus homens não puderam derrotá-los, vejo que são fortes AAArrrrg!!!! - Jason retirou a arma da perna ferida, e a jogou no chão. - Se eu não ficar esperto vou acabar perdendo aqui...

Ele coloca sua mão no bolso de trás, e de lá saca três discos negros, eram os discos de Hóquei no gelo, embora este esporte no terreno africano seria estranho o vilão não usava aquilo para um esporte sadio e sim para algo sádico...

- Vamos ver como se sai num joguinho amigável, meu caro colega...

Jason jogou os três discos pro alto e num piscar de olhos rebateu neles com o bastão, os objetos tomaram rumos diferentes, indo em direções variadas. Um deles foi direto para Sivirino, o outro bateu em um capô de um veículo velho e veio por trás do cangaceiro, o outro em direção a Morgana...

Testes:

Combate:

Ainda cantando, o cangaceiro acerta o alvo e o empurra para trás.

A música acaba.

Ele respira um pouco, para tomar o folego da corrida que fez, e fala para Morgana.

- Essa terminô, mulé... a próxima arrente va dançá cum o coro dele. Apontou para Jason e o responde enquanto ele preparava a tacada. - E vucê, Cabra semvergonho, Cale sua boca pra falar cumigo viu. Tenho treis coisa pra prozeá cuntigo: Primero, já passô tua épuca de iscola, intão já perdesse puque ficá esperto é qui tu num vai. Sigundo, se eu sô instranho, imarrine tu vistido assim jogano Róquei no mei do diserto. E tercero... Faz uma pequena pausa enquanto desvia do ataque

Sivirino se abaixa, desviando dos dois discos que passaram por cima do seu corpo. Ainda abaixado, aproveita o movimento para investir com a lâmina de sua peixeira e mirar nas pernas do adversário, enquanto continua sua fala.

- ...Sivirino da Silva num brinca, SÓ JOGA SÉRIO!!!.

O disco errou o cangaceiro porém acertou em cheio a garota, Morgana recebeu o disco no rosto, o golpe foi tão feroz que a garota rodopiou e caiu no chão, Sivirino já partia para desferir o golpe na perna do inimigo, o corte fez uma linha brilhante rasgar a perna do vilão que saltou para trás para evitar ser mutilado.

Embora Jason 22 fosse um vilão seus reflexos eram bons o suficientes para evitar o golpe letal, mas parecia haver um problema, embora o mascarado golpeava sem parar a menina o cangaceiro pareceu ser um grande problema, ele agora ficara nervoso e mirou o guerreiro do nordeste brasileiro, girou o bastão varias vezes e girou o corpo, foi pra cima d cangaceiro com golpes rápidos e letais, afim derrubá-lo, os golpes eram lentos mas depois o homem de chapéu percebeu o porque, golpes lentos e depois Jason acelerava num contra-golpe mais mortal, os golpes ficavam cada vez mais letais e visavam a cabeça de Sivirino:

- Está indo muito bem, mas agora você vai receber o ataque de misericórdia, se você joga sério então não vai ter arrependimentos quando for para o outro mundo, não se preocupe a garota vai logo atrás de você!!!

Combate:

No chão, Morgana sentia a sua bochecha queimar onde havia sido acertada pelo disco de hóquei. Sentia-se atordoada pela dor, tanto no rosto quanto no corpo inteiro e por alguns segundos viu sua visão escurecer e logo voltar ao normal. Levantou-se, olhando para o seu adversário, que sangrava ao ter sido ferido por Sivirino.

"O que ele ainda está fazendo vivo?"

Pensou Morgana.

E pegando suas adagas, preparou-se para dar o que poderia ser o seu último ataque. Em sua cabeça, repetia, quase como uma prece para o seu antigo mestre.  

"Vô, onde quer que o senhor esteja, e se estiver me ouvindo, peço que me abençoe e me proteja."

Lançou uma visando o coração daquele homem. Queria acabar com aquilo tudo o mais rápido possível.

- Minina, aguenta só mai um poco. Uma perna já foi, agora é só derrubá esse saci mitido a pião. Fala ofegante, ainda encarando Jason depois de receber sua pancada giratória.

Sentindo que o sangue lhe escorria pelo rosto devido à algum corte provocado pela último golpe recebido, o nordestino da duas leves pancadas na cabeça e sorri.

- A única misericórdia que perço é daquele que me deu essa cabeça prerparada pra aguentar lapada, meu Padin Ciçu... e eu lamento lhe informá, mar meu padin me disse hoje que não é o dia que vô mim incuntrá cum ele, intonce se você pudé mandá um recado pra ele...

Corre em direção do adversário, ainda curvado como se fosse mirar na sua outra perna. Queria que Morgana, caso decidisse atacar, pudesse ter visão do alvo.

- Diga que Sivirino tá mandando mai um prá ele cuidá. Ao dizer isso, sobre a lâmina repentinamente até o final do abdome de Jason.

A adaga de Morgana viajou pelo ar, Sivirino corria em direção ao vilão, a arma passou perto dele e atingiu com força o peito de Jason 22, os olhos do vilão se arregalaram por debaixo da máscara, Sivirno fez seu corte de baixo para cima, rasgando a coxa até o peito do adversário, o corpo do bandido foi jogado no ar e ele caiu de costas largando seu bastão, começou então a sangrar.

Sua mão tremia, mas o homem não se levantou, Jason parecia que havia sido derrotado, estava sem ação, a vila em chamas, mas algumas pessoas já estavam tentando apagar o fogo, o problema era o gasto de água para isso, precisavam da água para viver e teriam de usá-la para apagar o fogo, alguns bandidos vendo seu líder cair, foram embora em motos e Jeeps 4x4.

Sivirino ainda sangrava um pouco na cabeça, a luta foi terrível, embora a dupla se virou como pôde, Kytes correu até Morgana, e a garotinha também, ela a abraçou forte enquanto Kytes apenas ficou de lado, piscando os olhos vendo o cangaceiro, era um moço esquisito para ele, falava engraçado também:

- Nossa que incrível! Vocês mataram ele? Caramba!!! Me diga Morgana você está bem? E esse moço estranho quem é, nunca o vi por aqui?
Esta faca sua aí moço parece mágica, derrotou ele com um golpe assim e assim... - Kytes tentava imitar o jeito com que Sivirino lutava, saiu meio desengonçado claro.

Havia pessoas feridas em volta, e alguns bandidos mortos...

Após o golpe, sivirino gritou como se tivesse acabado de executar uma técnica que treinara muitas vezes em sua vida.

- ESTILO P:  XERÁ NO'BUCHÔ

Limpou o sangue do inimigo em seu lenço, como dizia as tradições de onde viera. Todos os membros do cangaço deveriam usar lenços brancos em seus pescoços para representar sua alma e, com ela, limpar o sangue das vítimas de suas lâminas. Para Sivirino, o lenço carregava as vidas que tirou e todas as feridas que já causou àqueles que mereciam.

O lenço de Sivirino era rubro.

Mas logo sua pose de desfizera e seus ferimentos lhe lembraram de sua fragilidade humana, mesmo sendo um homem do sertão. Sentia a dor em sua cabeça, mas a alegria de ter derrotado aqueles bandidos era maior.

Lentamente, meio cambaleante, foi até Morgana e falou.

- Deixe esses curvades fugir, vucê lutô bem que só a bexiga... Dispois do que zoiaram hoje, duvido meteram as fuças aqui dinovo. Agora quero lhe pidir uma coisa. Prorcure na vila algum inxirido que possa cuidar desse Jázon e num deixá ele se incontrá com o cramunhão ainda... vô tê qui adiá a viage dele inté ele me falá onde tá esse tal de Jaquison. Aprorveite tonbem pra tratá das suas feridas.

Respira fundo, pois seu corpo não estava muito bem para falar o quanto ele estava falando.

- Inquanto isso, vô ajudá a apagá esse fogareu todo. Rezá pra São Pedro mandá Chuva e apagá as fuguera de São Jão.

Ele procura algum aglomerado de pessoas que estejam apagando o fogo e começa a rumar até lá, mas antes nota que aquele garoto parecia estar empolgado com o que acabara de acontecer ali. O cangaceiro lembrou-se de si mesmo quando era garoto.

Se abaixou para falar com Kytes.

- Acho que ainda não, pirraia, mas cum certeza os colegas dele num vão vortar por um bom tempo. Mas quando vortarem, vucê já vai ta crescido e pronto pra lutá que nem calango doido. E eu... eu sou Sivirino da Silva, vim do Brasil até aqui pra salvá minha mulé que esses disgramados robaram.

Vendo o menino imitando seus movimentos, o nordestino sorri com ternura.

- A mágica não tá ná pexera. Ta aqui. Com seu dedo direito, toca na cabeça do garoto e, logo em seguida, toca em seu peito. - Por isso, é assim que se faz... Pegou nas mãos do menino, com movimentos leves e respeitosos para não assustar o garoto com a aproximação de um estranho. Simulou uma adaga nas mãos de Kytes e realizou um ou dois movimentos básicos das artes que aprendera quando era muito novo, de seus pais. Ver interesse de jovens de outras nações nas artes de sua terra fez o coração de Sivirino aquecer e, até, esquecer um pouco da dor que sentia.

- Se quisé aprendê, pode me procurá quando tivé crescido o bastante. Tarvez eu vá precisá de um aprendiz... mai agora, vô ajudá esse povo.

Se levanta e vai até as pessoas que estavam jogando água nas chamas. No caminho, fala pro menino.

- Se quisé ajudá, só pegá uma cuia cum água e vim cumigo.

De costas, levanta sua mão direita com o dedo polegar em riste para o garoto.

Morgana sentiu aquela coisinha pequenina a abraçando, e logo virou seu olhar, vendo aquela menininha. Formou-se, assim, um sorriso no rosto de Morgana.

- Olá, pequenina... Está tudo bem com você? Alguém lhe machucou? - Falou, acariciando os cabelos da criancinha.

Virou-se para analisar a vila, sentia um aperto no peito por ver aquele lugar tão simples entregue ao caos.

- Não sei se estou tão bem, Kytes. - Falou passando a mão na bochecha onde havia sido acertada pelo disco de hóquei, ainda com um sorriso cansado no rosto.

Olhou para o corpo de Jason estendido no chão, que ainda tremia. E ouvindo o pedido daquele homem que lhe ajudara na batalha, Morgana volta-se novamente para a menina.

- Querida, você sabe alguém que possa cuidar dos nossos ferimentos? E... Dos ferimentos daquele caído no chão. - Fez uma pequena pausa na sua fala. - Sei que parece não ser a melhor ideia, mas o senhor de chapéu tem razão. Se não descobrirmos onde podemos achar o chefe dessa gangue para poder derrotar eles, é questão de tempo para que novos bandidos venham causar mais destruição à todos vocês da vila. - Falava com a voz suave e carinhosa.

Kytes assentiu as palavras do cangaceiro,, depois correram para ajudar as pessoas do vilarejo, as pessoas ainda se receavam de usar a pouca água que tinham, então cobertores e outras peças de roupas eram usadas para baterem nas chamas mais pequenas, Kytes e o cangaceiro ajudaram com as chamas.

A garotinha morena de cabelos rosados, acenou a cabeça afirmativamente e correu até as pessoas, Morgana tentou conversar com um aspirante a médico, na verdade um enfermeiro, mas haviam mais aldeões feridos e então ficou difícil convencer que a vida de Jason era mais valiosa que dos outros, era uma questão difícil, mas a vila estava em chamas, os feridos foram levados para uma tenda, e algumas pessoas foram voluntárias para carregar os feridos.

O caos foi diminuindo com o tempo, e a noite dava lugar a uma certa claridade do dia, o céu escuro estava dando lugar a luz, mas ainda era de madrugada, Sivirino estava exausto, e os outros moradores da aldeia também, Morgana havia sido tratada de seus ferimentos e o cangaceiro também estava já enfaixado como uma múmia, Kytes ficara dando risada dele porque aquele chapéu e as faixas deixavam o homem com aspecto engraçado, a faixa na cabeça estancava o ferimento.

Morgana e Sivirino ficaram sentados com alguns moradores, onde alguns passavam distribuindo pão, Ayo ancião da Aldeia estava com uma cesta de pão, o fogo havia sido contido, o enfermeiro apareceu, mas apenas para noticiar que Jason não sobrevivera, mais por negligência do que pelos ataques dos dois, podia perceber Morgana.

Kytes apareceu com uma jarrinha de água oferecendo para a garotinha Sivirino e Morgana, a menina não saía de perto da mulher.

- Ei Morgana Sivirino bebam, sabe de uma coisa o Sivirino tava falando que esta a procura de sua mulher que foi sequestrada pelo que entendi é isso, a Morgana acabou aparecendo aqui por acaso, e eu na verdade não moro aqui só vim a esta aldeia para arrumar alguma comida e água, mas com este incêndio a coisa ficou feia aqui, mas o poço dá água acho que eles vão sobreviver. Eu posso tirar a gente daqui, eu sou um bom guia para estas bandas sou bom conheço vários locais, não querem viajar comigo??? Eu ajudo vocês e vocês se tornam meus guarda costas e então bom plano né?

Kytes falava orgulhos de suas próprias habilidades, estava sorrindo bastante:

- Posso ajudá-los pois sei onde são as bases dos criminosos, sei porque não devo pisar em terreno perigoso, vocês vão se surpreender comigo, e quanto a você Morgana, posso te levar onde quiser... Hehehe!!!

Sivirino da Silva estava muito cansado com toda aquela confusão que se metera naquele dia, lutar e ajudar as pessoas ali fora uma tarefa árdua, mas que trouxe felicidade ao seu coração. Aquele lugar lhe lembrava sua terra natal, com todas as pessoas tentando serem felizes mesmo em meio à dificuldade. Riu junto do garoto que parecia caçoar das faixas que cobriam seu corpo, fazendo barulhos sinistros para imitar uma múmia.

Vendo a cesta do ancião, o cangaceiro pegou apenas metade de um pão, pois não queria incomodar aquela pequena vila que já passava por tempos ruins. Agradeceu pela comida e logo a comeu.

Sivirino recebeu a noticia sobre Jason e bateu fortemente no solo com sua mão direita. Havia novamente voltado a estaca zero e teria que procurar novamente por pistas daqueles homens... sentia que toda aquela dor que via naquelas terras teria sido em vão e lembrara de Rosinha.

Ao ver Kytes com o jarro de água, Sivirino agradeceu mas negou a oferta, tirou de sua cintura um cantil de couro e de lá deu alguns goles de sua bebida preferida: Pitú. Após beber, respondeu ao garoto.

- Sim... to nessa estrada a procura de Rosinha. Mar, falando sobre irmo junto, eu aceito a proposta... só priciso sabê pruquê a Sinhorita Morgada ta vagano por essas bandas. Só pudemos andá juntos se tivemos quereres in comum.

O nordestino encara a menina, esperando uma resposta.

- Só digo pra tumá cuidado cum ela, Calanguinho, ô ela que vai ti levá pra infermaria cuns canivete dela.

O cangaceiro cai na gargalhada.

Morgana via no céu o sol desabrochando, e toda aquela confusão se apaziguando com o passar do tempo. Mas ela sabia que aquela "calmaria" não seria para sempre. Ela ainda não havia derrotado o líder que comandava toda essa destruição. Nem mesmo havia tido notícias durante esse tempo sobre a pessoa que procurava... As coisas realmente não estavam caminhando bem. Vendo o senhor Ayo passar com a cesta de pães, Morgana pega a metade de pão que Sivirino havia partido, e come, fazendo um gesto de agradecimento aquele senhorzinho, com um sorriso no rosto. Em meio àquela destruição, um sorriso de agradecimento pela bondade daquele senhor era o mínimo que Morgana podia fazer.

Morgana tratou de pôr a menininha em seu colo, enquanto ouvia Kytes falar.

- Olha, menino, eu espero que você saiba realmente o que está dizendo! Eu aceito o plano. Mas saiba que se meter a gente em enrascada, as coisas podem ficar bem feias pro seu lado, pequeno! Vai levar palmadas! E ainda leva mais palmadas se continuar se engraçando desse jeito. - Havia um pequeno tom de brincadeira na sua fala.

- Bem, senhor Sivirino - Morgana sorri na direção do cangaceiro - Saiba que também estou a procura de uma pessoa. E a procura de me vingar da morte do meu mestre. E não pretendo causar nenhum mal a pessoas boas, como você me parece ser pelo que tem demonstrado. Então pode ficar tranquilo.

Morgana levanta seu polegar na direção dele.

A menininha apenas ri com as palavras de Morgana, ela ainda permanecia em seu colo e Kytes ficou parado com cara de tristeza vendo que poderia apanhar se fizesse algo errado!!!

Depois o rapazinho continuou:

- Ei essa bebida tem cheiro ruim Sivirino, eita nóis... - usou a mão para abanar o nariz por causa do cheiro. - Agora estamos entendidos, vocês vem comigo e passamos nos locais ao redor pra ver se achamos quem vocês procuram, o território é bastante longo e deserto pode ser uma aventura perigosa gente, mas tenho algo que vocês vão gostar, quando vocês acham que devemos partir???

Quando Kytes falou em partir a garotinha segurou firme nas roupas de Morgana, não a soltou, abraçando-a firmemente, como se não quisesse que ela fosse.

Ayo vendo que a garota se afeiçoou a viajante se aproximou:

- O nome dela é Rena... - Ele se aproximou do grupo mais ainda. - Ela presenciou os pais serem mortos por um bando de bandidos e desde este dia nunca pronunciou nenhuma palavra, acho que o trauma foi demais...

O velho falou sussurrando, mas Rena estava ouvindo tudo, ela verteu lágrimas ao lembrar das cenas e molhou um pouco a roupa de Morgana.

- Nós cuidamos dela desde então, fazendo o possível para cuidarmos uns dos outros nestes tempos difíceis, mas tememos a gangue do Jack, como viram eles nos atacam para roubar água e comida, nós agradecemos por estarem aqui e nos ajudarem, acho que você conquistou sua liberdade moça e perdão por nós a prendermos, não sabíamos se era algum malfeitor e agradecemos ao senhor por nos ajudar com as chamas... - Se curvou para Sivirino.

Kytes colocou as mãos atrás de da nuca...

- Eu também ajudei então estou perdoado né?!!! - O rapaz fez uma cara de envergonhado e sorriu.

Ayo olhou para Morgana e Sivirino, suspirou e assentiu, fez que sim com a cabeça, o garoto deixou escapar um "Yes!!!" e um "ops" depois disso...

Sivirino sorri com o canto da boca ao ver que a garota que lutara ao seu lado parecia respeitar, também, a pobreza daquele local. O pão deveria alimentar todos.  Escutou a resposta de Morgana enquanto olhava Kytes.

- Eu avisei pra vucê. Gargalhou enquanto batia em sua coxa com a mão esquerda. - E num é chêro catingoso não minino, é chêro de bibida de verdade, bibida forte que nem o povo do meu sertão.

Respirou fundo para se acalmar e respondeu ao que a garota falou.

- Si é desse jeito, intão desse jeito que vai sê... Levantou-se. - Vamo achá os nosso chamego, tascar arquele bejo de sordade e dispôs tacar a bicuda nesses infeliz qui fizero isso. Sorria enquanto apontava sua mão direita para o polegar de Morgana, com seu polegar em riste.

Olha para kytes logo após, para respondê-lo.

- Num importa quão grandi é essas areiazinhas aí, Caite, vamo cum tudo... faz uma pausa ponderando sobre o questionamento final do garoto. - Mai acho melhor irmo cum tudo quando amanhecê. Seria bom um cuchilinho. Pisca para o garoto enquanto sorria sem graça por parecer preguiçoso.

Virou-se para Morgana.

- O que vucê acha, mini... Parou sua pergunta pois viu que o ancião da vila estava próximo dela e da garotinha em seu colo, então decidiu ficar quieto e esperar que ele acabasse.

Mas logo aquele senhor pareceu falar com o cangaceiro, se curvando como agradecimento. Sivirino da Silva se surpreendeu e logo correu para evitar que ele fizesse isso.

- Num precisa disso, Sinhô. Eu argradeço pela cumida e hospitalidade acunxegante. Arjudei purque ocês me fazem lembrar de casa.
São hurmildes e mermo assim ainda são generosos... Prometam qui vão sempre ser assim e aí ficamos quites. Seu sorriso costumeiro estava novamente em seu rosto, olhando fixo para o ancião.

Vendo a situação de Kytes, Sivirino só conseguiu gargalhar novamente.

Então eles ficaram ali mais um tempo, arranjaram lugares para eles dormirem e Kytes sumiu aquela noite, ele disse a Sivirino que encontrassem ele ao amanhecer na pedra do deserto que ficava ao leste da região, a pedra era grande e dava para ver de longe, Kytes prometeu não se meter em confusão e disse que viria com uma surpresa para eles, a noite chegou, foram dormir e o dia então amanheceu.


Sivirino e Morgana dormiram profundamente aquela noite, talvez devido ao cansaço das batalhas, a manhã já mostrava o quão quente era a região, o sol castigava logo cedo, como agradecimento os aldeões deram água e um pouco de comida para o grupo, Kytes não deu as caras ali de manhã, como foi combinado ele estaria na pedra grande.


Ayo informou para eles onde poderiam encontrar esta pedra, ela não era tão difícil de achar visto que era grande e de longe naquele horizonte plano se podia ver, lá eles também poderiam proteger do sol com a sombra projetada pela pedra.

Rena havia dormido com Morgana e de maneira nenhuma queria largá-la, parece que a garotinha não quisesse que ela fosse embora, já estava tudo pronto para partirem, Ayo o ancião da aldeia estava com eles, já as outras pessoas da aldeia estavam trabalhando para concertar os danos causados pela gangue de bandidos.

Xp vitória Sobre Jason:

Recuperação:

Sivirino teve uma maravilhosa noite de sono. Sentiu seu corpo se recuperando das feridas e sonhou com Rosinha, o amor que os bandidos daquela região lhe tiraram. Eles brindavam seus cantis feitos de couro de bode cheios de Pitu enquanto pulavam a grande fogueira central que homenageava um grande santo de sua terra natal.

Acordou no dia seguinte de supetão, ainda sentindo o gosto das comidas de milho que comera em seu sonho com sua amada... Mas agora não adiantava para aquele nordestino ficar chorando pela cajuína derramada, iria partir junto com Morgana e Kytes para poder abraçar Rosinha fora do mundo dos sonhos.

Sivirino agradeceu a comida e a bebida e se serviu, sem esbanjar, pois sabia que devia estar preparado para  viagem. O calor não lhe incomodava, até chegava a sentir um certo frio pois seu corpo parecia acostumado à temperaturas mais altas que aquelas.

- Eu argradeço por tudo, Seu Yoiô. Quando eu tivé vortando cum Rosinha, passo aqui pra mostrar a localidade pra ela e arpresentar o moço que me ajudou a chegá até ela. Agora eu vou me arredá daqui, que Padin Ciçu inteceda por vucês. Vamo simbora, Morgana?

Após falar com Ayo e agradecer pela informação, Sivirino parte para onde Kytes havia combinado, esperando que a menina lhe seguisse.

Os três partem para o local combinado onde Kytes havia falado, tinha realmente uma pedra com formato diferente na região, onde realmente puderam se deliciar em sua sombra, embora Sivirino parecia não se importar muito com o calor da região, Morgana achou por certo levar a garotinha consigo, assim Rena estava junta e unida ao grupo, embora a viagem poderia ser perigosa, a menininha já tinha perdido os pais e simpatizara com ela, então ela a trouxe consigo adotando-a.

Na pedra nem sinal de Kytes, o trio ficou ali esperando já por volta de meia hora e nem sinal do menino. Rena estava recolhendo água de um cacto enquanto Sivirino e Morgana estavam na sombra, a garotinha estava se ocupando e os dois não se importaram visto que aquilo a distraía, eles tinham água, mas mesmo assim Rena fazia o trabalho, talvez pensando no futuro que suas garrafas secariam. Morgana sentada na areia de baixo da sombra dizia:

- Será que Kytes fugiu? Ou aconteceu alguma coisa com ele, já andamos bastante, não seria prudente voltar a aldeia, devemos prosseguir, mas confesso que ele como guia seria bastante útil para nós...

Ela agora olhava para Rena trabalhando e se sentindo útil do jeito dela.

- Acha que ter trazido os dois foi algum erro? Pode ser perigoso daqui pra frente e eles são apenas crianças, Rena parece querer ser útil nessa viagem e Kytes... Bem estou preocupada com ele...

O sol brilhava intensamente e o solo seco e castigado parecia dar a região um aspecto triste e devastador, um local que castigaria muito seus "filhos" ao longe Sivirino notou uma grande poeira se levantando, vinha da direção do vilarejo de que saíram,uma nuvem pequena de areia no horizonte.

Sivirino andava atento pelas areias do local, procurando a pedra com formato peculiar que kytes havia informado. Olhava de tempos em tempos para a menina no colo de Morgana mas decidiu não perguntar porque ela a carregava consigo. No caminho, assoviava cantigas que aprendera em sua infância do local de onde viera e se perguntava sobre a demora em reaver logo sua amada.

Ao chegar na pedra, Sivirino notou que faltava algo essencial. Kytes.

- Só me fartava essa. Parece que o minino tumou chá de sumiço. Resmungou para si mesmo, mas com um tom suficientemente alto que todos puderam ouvir.

Após algum tempo rodeando o local em procura do garoto, o sertanejo escolheu sentar e esperar que Kytes aparecesse e, enquanto isso, observou curioso e atento, as ações da pequenina.

- Mar que minina inteligente, rapai. Cum essa idade e já tem noção dessas coisas, eu na idade dela ainda era um tabacudo que nem caçar os calango sozinho eu conseguia. Suspirou de orgulho por ver que a geração futura daquela aldeia ainda seriam de pessoas trabalhadoras e resistentes.

Logo saiu de seu encanto por conta da pergunta de Morgana e virou-se para ela.

- Hum... Ele me parece um minino ixperto pra sabê que si ele num cumpri a palavra dele, vai levá um puxavanco de orelha beeemmm dolorido. Sivirino representa com suas próprias mãos como seria o puxão de orelha. Falava em tom mais de brincadeira do que com raiva. - Axu que não... ele não é um minino mau e parecia tá bastante alegre em ser nosso guia... vamo isperar só mais um tico e, quarquer coisa, decidimos despois.

Voltou a olhar para a menina, suspirando. Não tinha medo que Kytes tivesse mudado de ideia ou que lhe tivesse acontecido algo pois pelo que parecia, o garoto conhecia mais daquelas terras que aqueles dois que ali estavam sentados olhando uma menininha coletar água.

Com a próxima pergunta de Morgana, Sivirino gargalha.

- Perigoso? Vucê viu a vila de onde eles saíro? Ainda acha que eles tão pió cum a gente ? Não, não. A menininha tá filiz em puder passear e o Caites... o Caites vai gostá de aprendê a se defendê melhó. No final de sua frase, tomou um tom sério e pigarreou um pouco. - Você inda é nova e deve intender que eles num são mais criança normal. Essa pequenininha já tem noção do prerigo da sede e o minino já deve ter visto muita coisa ruim na poca vida que já teve... o mínimo que eu, Sivirino da Silva, posso fazê é oferecê mermo que seja um piqueno tico de sigurança e aventura à eles.

Com lembranças do seu passado, o nordestino parecia falar com o peso de quem sabia do que estava dizendo. Continuou sentado olhando para Rena, encantado, sorrindo para ela e a encorajando caso ela olhasse para ele enquanto fazia sua tarefa.

Por um momento, forçou a vista no horizonte e pôs sua mão sobre os olhos para evitar o sol.

- Morgana... tu ta veno aquilo tonbem? Se espantou, mas não podia criar muito alarde por conta de algo que poderia ser simplesmente o vento.

Esperou atentamente a resposta da garota ao seu lado.

Morgna compreendeu as palavras do homem, e entendeu que as crianças não eram tão crianças neste mundo cruel que viviam, ela sabia disso pois também teve pessoas queridas que morreram e sumiram, não era este também o objetivo de Sivirino? Achar sua amada? Morgana se levantou assustada depois do último comentário do cangaceiro e olhou para onde o cangaceiro apontava:

- Nossa mas... Uma tempestade de areia? Não, não é isso, se fosse, a nuvem de areia seria maior, mas então...? Ei é um veículo... Sim é um veículo...

Era um veículo que se aproximava, com o passar do tempo eles viam alguém acenando do carro, era Kytes, sim era o garoto, ele pilotava um carro sem teto, uma espécie de Buggy do deserto, o carro tinha 4 lugares dois na frente e dois atrás, tinha as rodas traseiras maiores que as dianteiras, e os cravos do pneu se ajustavam ao terreno arenoso do local, parecia o automóvel perfeito para aquela região, Kytes parou o carro perto da pedra, Rena havia se assustado antes e corrido para ficar atrás de Morgana, mas quando reconheceu o rapaz começou a sorrir...

- Aeee Sivirino, Morgana o que acharam do meu carango? Hahahaha Não falei que vocês iam se surpreender com minha surpresa...?

- Nossa pirralho!!! Você sabe mesmo do que uma garota gosta!!! Hahaa... - Morgana andou em volta do Buggy tocando a lataria...

Rena ficou na frente do carro olhando para tudo curiosa, não que ela não conhecesse veículos, mas aquele ali era diferente dos outros, Rena via mais caminhões e achou engraçado ser pequeno o automóvel, mesmo assim havia espaço para todos, um Estepe na traseira e abaixo dele um porta malas.

- Gostou Sivirino? Com este aqui podemos chegar mais rápido nos locais, simbora galera sobe aí gente...