- Contenha-se, contramestre - disse Raggeti.
- Em nossa tripulação os dois peixinhos de água doce terão tempo para ouvir umas boas informações a seu respeito e a temê-lo como devem. - Ele se vira novamente para o Lyed.
- Se metade dessas histórias a respeito do capitão Sinistro forem verdadeiras, eu sou então a reencarnação viva de Immurk o Invencível e o olho que me falta foi um tributo para os deuses.Raggeti então levantou-se e bradou em voz alta:
"Hora de zarpar. Quero todos a bordo do Marlin Negro em menos de trinta minutos". Em 10 minutos os marujos já andavam pelo deque central da embarcação, tal era a vontade deles em se colocar em movimento. O
Marlin Negro possuía velas negras (propício pelo seu nome) e o desenho do peixe de longo focinho (um marlin negro, claro!) despontava para o horizonte através da proa. A âncora já havia sido recolhida e a embarcação começava a se afastar da Ilha Dragão num dia ensolorado. Foi então que Raggeti chamou toda a sua tripulação e mandou que eles formassem uma linha à sua frente. Apenas Lyed e Thelarq estavam ao lado do capitão, pois os membros da tripulação seriam individualmente apresentados aos dois.
O primeiro da fila era o menor, e que aparentava ainda ser um adolescente.
- Este é Sean Dorean, o mais novo da turma e talvez o mais inteligente - aquele comentário certamente não agradou ao resto da tripulação. O garoto apenas sorriu, auto-confiante de si mesmo. Ele demonstrava tanta confiança em si que chegava a ser irritante. Os próximos eram os dois irmãos, Albett e Royce. Se eles não eram gêmeos, eram quase, pois seus traços físicos eram bem parecidos e possuíam o mesmo corpo atlético.
- Albett e Royce, senhores. Não há marujos mais subservientes do que os dois. E vejamos... Aqui temos Salaman, o cozinheiro chefe do Marlin. Ele não é de falar muito, pois nem ele nos entende perfeitamente e nem nós o entendemos. - Salaman sorriu alegremente, mostrando realmente que não tinha entendido muita coisa. O seguinte era um senhor de idade, de cabelos brancos e que não parava de tossir.
- Pegou uma nova tosse, Roguer? É melhor você voltar para o seu gabinete e ficar trancado lá. - Jolly Roguer era o escrivão do navio, e ele de imediato aceitou a sugestão do capitão.
Os dois próximos não precisaram de maiores apresentações, pois Lyed e Thelarq já os conheceram. Frac'Eido era o contramestre do navio, e Dyke era o responsável por guiar o leme. Hymma vinha logo depois, um pirata alto e um pouco desengonçado que fazia o papel de vigia no cesto da gávea. Fechando a fila estava um sujeito de cara fechada, usando vestes azul-marinho e com um bigode espesso e bem delineado.
- Este é Abbadon, o sacerdote da Rainha das Profundezas. É graças a ele que o vento sopra a nosso favor e continuará soprando pelo restante da viagem. - Era uma tripulação pequena, supunha Lyed, mas que talvez fosse o suficiente para resgatar Aideen.
- Agora que vocês foram devidamente apresentados à tripulação, é bom informar que possuímos um código estritamente seguido por TODOS. Quem desrespeitá-lo, sofrerá as pesadas consequências. O código está num pergaminho preso acima da porta de meu quarto no castelo da popa. Leiam-o, e se não concordarem com algum dos itens, vocês não servirão para o Marlin Negro.- Código Pirata:
O código vigente no navio Marlin Negro foi criado de comum acordo por todos os tripulantes, escrito e redigido pelo escrivão, e ele consta pregado com uma adaga em frente da porta da cabine do capitão para ser lido por todos.
• Artigo 1 – Todos devem obedecer a todas as ordens.
• Artigo 2 – Todos os tripulantes tem o direito a voto nas decisões mais importantes.
• Artigo 3 – Os despojos devem ser divididos da seguinte maneira: uma parte para cada membro da tripulação; uma e meia para o imediato, o contramestre e o mestre carpinteiro; e duas partes para o capitão. Esta divisão pode ser alterada de acordo com a situação.
• Artigo 4 – Qualquer um que não mantenha suas armas limas e prontas para o combate ficará sem a sua parte do botim, e poderá sofrer outras punições de acordo com a decisão do capitão.
• Artigo 5 – Qualquer um que ataque outro membro da tripulação em alto mar receberá quarenta chibatadas do contramestre. Disputas entre os tripulantes deverão ser resolvidas em terra, cada um com uma arma na mão, e será o vencedor quem aplicar o primeiro corte no adversário.
• Artigo 6 – Qualquer homem que quebrar sua arma, fumar tabaco no porão ou carregar uma vela acessa sem qualquer proteção, deverá sofrer as mesmas chibatadas do artigo anterior.
• Artigo 7 – Qualquer um que tentar deserdar ou guardar segredos da companhia será abandonado numa ilha deserta com apenas uma garrafa d’água e uma arma.
• Artigo 8 – Qualquer um que tentar introduzir à bordo uma mulher disfarçada, será punido com a morte.
• Artigo 9 – Qualquer um que roubar um companheiro da tripulação terá seu nariz ou orelha cortados, de acordo com a decisão do contramestre. Se o marujo cometer o mesmo erro, será abandonado numa ilha deserta na mesma condição do artigo 7.
• Artigo 10 – Os músicos (se tiver algum a bordo) poderão descansar no último dia da dezena, mas não receberão quaisquer outros favores durante os nove dias e noites restantes.
• Artigo 11 – Se o navio do seu capitão afundar, a tripulação promete permanecer até que estejam de posse de um novo navio. Se o próximo navio for de comum propriedade da tripulação, a primeira embarcação capturada deverá ser do capitão.
• Artigo 12 – Qualquer um que retirar a adaga que prende este pergaminho terá como punição a morte imediata.