Um Dia na Vida de J. J. Quinzel
O sol raiava cintilante entre as nuvens durante a manhã, Jack Joey Quinzel, ou "JJ" para os íntimos, observava a mansão dos Bennett através da janela da carruagem, uma enorme casa de campo onde Barry e Abby residiam na maior parte do tempo. Aos poucos a pequena visão da mansão no horizonte não cabia mais entre a janela, quando finalmente chega ao seu destino. Os pés mal tocam o chão batido e o cocheiro já esticava a mão cobrando pela viagem. Jack paga pelo serviço do homem, dando uma pequena gorgeta de lambuja. O cocheiro faz uma reverência e estala o chicote nos lombos dos cavalos, partindo imediatamente. Jack coloca a cartola na cabeça e caminha adentrando os portões já abertos, carregando consigo sua bengala que usava como acessório, ou assim pensavam que fosse. Uma figura coloca a cabeça para fora de uma das inúmeras janelas da enorme fachada frontal, alertando a família que Jack havia retornado. Quase que imediatamente Lady Myra sai correndo pela porta da frente. A garota de doze anos percorreu o quintal com ânimo, e sequer freou sua corrida, quase que mergulhando em Jack e o abraçando. A cartola não resistiu e caiu no chão. - Uoou... - Reage Jack com o abraço da garota. - Você chegou uma semana mais cedo! - Lady Myra falava com o semblante feliz. - Se quiser posso dar meia volta e voltar daqui uma semana... - Debochou Jack. - Nãããããããoooo... - A garota responde olhando para cima, para o rosto de Jack. Suas mãos apertavam a cintura de Jack ainda mais, forçando que não partisse. Jack apenas ria da garotinha. A pequena Lady Myra era a mais nova das duas filhas de Barry e Abby, que somavam ainda mais dois filhos. Jack e Myra eram tão apegados que Jack acabara se tornando mais irmão de Myra que os próprios irmãos legítimos da garota. Logo o restante da familia começava a aparecer para receber Jack, todos sempre receptivos e calorosos, mas claro, não podiam competir com o ânimo de Lady Myra. - Leo... - Jack abraça o filho mais velho do casal, este já tinha a mesma idade de Jack, mas apesar disto, não eram tão próximos quanto dos outros três irmãos. - Padrinho! - O velho lobo também recebe seu abraço. Barry Bennett, Jack o chamava de padrinho. Barry era o patrão dos pais de Jack, e o laço entre os dois se estreitou assim que o pai de Jack faleceu. Sua mãe ainda trabalhava na mansão, tanto é que logo aparecera para receber Jack também. - Mãe! - Jack deu um abraço apertado em sua mãe Helena, e um beijo na testa. Abby cumprimenta Jack por uma das janelas do segundo andar, e logo some no interior da mansão, se isolando novamente. Jack começava a pensar que talvez ela estivesse doente. Abby não era querida pela mansão, mas isolava-se cada vez mais dos convidados e empregados. Uma mesa farta foi providenciada para o café da manhã, e todos que estavam na mansão confraternizaram e bateram papo sobre o último mês de Jack, ao qual passou nas muralhas de Caspia tratando de negócios. Após a reunião familiar na mesa, Barry reserva um momento para falar a sós com Jack em seu escritório, fechando a porta dupla de madeira maciça. - Então... Conseguiu algo com os Ferrinos? - O padrinho, ou patrono de Jack, senta em sua cadeira acolchoada, enquanto Jack servia para si um copo de bebida alcoólica. Barry escondia de seus filhos e esposa suas aventuras na "arte do crime", como ele chamava, e Jack fazia o mesmo com sua mãe. - Fizeram jogo duro... Mas no fim cederam... - Jack da um gole na bebida, e volta a falar. - Falta só fechar uma ponta solta... - Ele olhava para Barry esperando que o velho lobo adivinhasse. Barry cerrava os olhos, ficando pensativo, mas após alguns segundos responde hesitante e decepcionado. - Johnny... - Jack faz um estalo com os dedos, confirmando o nome dado por Barry. - Sinto muito padrinho... Johnny não vai deixar o negócio nem por uma fortuna que garantiria a aposentadoria... Os prostíbulos clandestinos dele rendem mais dinheiro que a coroa... Ele tem muitos figurões no bolso... Nada que o Senhor possa fazer... Barry tinha conquistado uma fortuna com seus investimentos, legais ou ilegais. Aplicava-se em vários tipos de negócios, e sua reputação era muito grande em seu meio. Barry também era um filantropo, e envolvia-se com a comunidade afim de melhorar a qualidade de vida da população geral. Muito do quê Jack sabia fora ensinado por Barry, que por muitas vezes embarcava nas aventuras de seu patrono. A relação entre Barry e Jack era por muitas vezes invejada por seus dois filhos homens, já que Jack era mais operante nos negócios da família que ambos. Era sabido por Jack que Barry apenas queria segurar que seus filhos não corressem os mesmos riscos que ele corria, sentia-se melhor pai lhes entregando a melhor educação disponível para se tornarem doutores em suas áreas. - Ele ainda vai pagar pelo que faz... - Barry falava menos otimista que costumava a ser, o quê doía o coração de Jack, o velho lobo, não tão velho quanto aparentava para Jack, não era de desistir assim fácil. Mas era Johnny, e Johnny estava blindado por tantos fatores, que levaria uma vida para contornar todos eles. - Bom... Sinto muito pelo tempo perdido, Jack. Jack levanta o copo com a bebida até a altura do rosto, cumprimentando Barry e saindo do escritório em silêncio.
O fim da tarde se aproximava e o céu começava a ser pintado com tons de laranja que se misturavam ao azul predominante. Jack partia da mansão dos Bennett, mas não antes de Lady Myra demonstrar o quê havia aprendido. Uma espada de madeira é lançada na direção de Jack repentinamente. Jack deixa a bengala cair no chão e agarra a espada de madeira ainda no ar, pois a garota já havia partido para o ataque. As investidas de Lady Myra são defendidas com desespero no início onde quase fora pego de surpresa, mas logo o duelo contra a garotinha estava sob seu controle. Ela havia perdido alguns vícios de combate e seus movimentos de fato ficaram menos previsíveis, com certeza estava treinando escondida de Barry e Abby, e se ela fosse descoberta, a culpa cairia sobre os ombros de Jack, já que ele era a figura que Lady Myra se espelhava. Depois de uma investida com vários golpes, e todos defendidos, Lady Myra, ofegante, fitava os olhos de Jack, seu adversário nesse duelo montado por ela. - Quase que te pego dessa vez... Você já foi melhor... - Caçoou a garotinha. - Eu pego leve com quem luta com os sapatos desamarrados. - Jack fala de forma séria. Ingenuamente, Lady Myra olha para os seus sapatos, já Jack, coloca a espada de madeira que manejava rente ao pescoço de Lady Myra. - Morta... De novo... - Toda a pose de esperta da garotinha desmoronou quando percebeu que havia caído em um truque bobo. - Você trapaceou. - Estava indignada. - E você nunca mais vai cair em um truque desse novamente... Vivendo e aprendendo... - Jack riu junto com a garotinha, entregando a espada de madeira e recuperando sua bengala no chão. - JJ... Posso passar o fim de semana na tua casa? - O pedido já era esperado por Jack. A garota era urbana, podia notar isso, e sempre que podia fugia da casa de campo para ser lecionada na cidade, junto com Jack. - Veja com seu pai... - Jack não queria levar a culpa por mais outra coisa que Lady Myra fosse aprontar. Os dois se despedem, Jack ficava observando Lady Myra adentrar a mansão enquanto uma carruagem se aproximava no horizonte, provavelmente a que contratou mais cedo. Lady Myra acena com as mãos e adentra a casa. Jack respondeu levantando a sua cartola com a mão. Então a garotinha adentra a casa, não se despedindo por outra vez. Atrás de Jack, a carruagem estaciona, ele mantém sua visão fitando a mansão, perdido em pensamentos. - Jack? - Uma conhecida voz feminina desperta Jack de seu devaneio. - Delilah? - Jack engole a saliva em seco, virando-se para a carruagem e deparando-se com a formosa Lady Delilah. - Achei que estavas em Caspia. - Delilah falava enquanto descia da carruagem ajeitando seu vestido. - Foi mais rápido do quê esperava... - Jack responde deixando um sorriso amarelo. O silêncio que permanece deixa um clima de constrangimento para ambos, que procuravam as palavras com os olhos. A carruagem parte, e outra já surgia no horizonte, esta sim deveria ser a quê Jack havia contratado. - Então... A vizinhança em Piltover é tão boa quanto dizem? - Piltover era um bairro nobre de Vicari, a cidade no qual a mansão dos Bennett's ficava nos arredores. Também era a cidade que Jack residia, embora Jack morasse num bairro bem mais modesto. - Eu esperava mais... Não tem muito o quê fazer... Andrew trabalha dia e noite no sanatório, as vezes de madrugada também... Tive bastante tempo pra fazer vários tours pela cidade, e não tem muito mais para conhecer... Nada de fascinante... - Lady Delilah havia se casado há pouco tempo com o Dr Andrew Hopkins, diretor geral do Asilo Kirton, o sanatório de Vicari. Ainda era estranho os dois conversarem sobre a vida de casada de Delilah, uma vez que antes de se casar com Andrew, ambos tinham um relacionamento as escondidas. Jack estava inseguro em falar sobre o seu relacionamento com Delilah para Barry, e demorou tempo o suficiente para que Barry aceitasse um de tantos pretendentes que Delilah tinha. Cansada de esperar por Jack, Delilah aceitou o pedido de casamento de Andrew. Desde então, as conversas entre Jack e Delilah sempre soam constrangedoras, estranhas. Tentavam fingir que nada tinha acontecido entre os dois. A carruagem de Jack finalmente havia chegado. - Bom... Meu transporte chegou... - Jack levanta a sobrancelha e caminha para perto da carruagem, passando pelo lado de Delilah. - Este final de semana haverá um baile em Piltover, na casa de um dos amigos de Andrew... Tenho dois convites sobrando... - Jack subia a escada da carruagem quando fora surpreendido pelo convite, parando de costas para Delilah. - Não tenho quem levar como acompanhante... Além disso, Lady Myra pretende passar o final de semana me aportunando para ensinar ela a lutar... - Delilah solta uma risada abafada após o comentário sobre sua irmã menor. - Ainda tenho que disputar tempo seu com essa pirralha... Algumas coisas não mudam mesmo... - Delilah falava em tom bem humorado, e continua - Você não deveria incentivar ela com isso, sabia? - Jack volta a virar-se para Delilah. - Ela é teimosa demais para me escutar... E se ela quer mesmo isso, precisa aprender com o melhor. - Jack esboça um sorriso de canto de boca. - Convencido... - Delilah franze os olhos, fazendo pouco caso do quê Jack falara. - Au Revoir, milady... - Jack se despede, adentrando a carruagem, enquanto Delilah deixava um sorriso silencioso.
Jack bate três vezes na porta de metal maciço e em seguida arranha a porta com o bico da ave que ornamenta a ponta de sua bengala. Não demoraria para alguém atender, esperava ele. Lugos, logo ele foi quem abriu a porta pequena porta de observação para espiar quem estava por detrás da porta. Surpreendentemente não faz algum comentário irritante. - Chegou em boa hora... - O tom não carregava irônia. Não era o tipo de comportamento que Jack esperava de Lugos, uma vez que Lugos sempre o provocava quando podia. O fato de Jack manter uma vida paralela as questões da Irmandade incomodava Lugos. Jack fica pensativo enquanto encarava as paredes frias, as inúmeras trancas de proteção eram destrancadas por Lugos. E finalmente a porta se abre. Jack adentra a espelunca escura e desce pela passagem secreta atrás do balcão, onde a Irmandade se reunia para traçar seus planos e dividir os lucros. A escada rangia propositalmente. Após trancar a porta novamente, Lugos segue Jack. O salão secreto era mal iluminado, dois homens estavam em pé em frente a mesa redonda que ficava no meio do salão. As paredes de pedras brilhavam com o a iluminação dos candelabros, deixando com aspecto molhado. - Harpia... Que bom que veio. - Harpia, era assim que Jack era chamado entre os membros da Irmandade. Vivaldi falava de costas para Jack e de frente para a mesa. Vivaldi era o mais velho da Irmandade e o mestre de todos os outros membros. Sua disciplina e sabedoria não tinham igual, e apesar de cabelos brancos preencherem sua cabeça, é o melhor combatente entre todos da Irmandade, e particularmente o melhor duelista que Jack já conheceu. Muitas histórias do passado de Vivaldi eram impressionantes, e constatavam que quando jovem era ainda melhor. Definitivamente ele era o líder da Irmandade, apesar da Irmandade não eleger nenhum líder. Vivaldi liderava pelo exemplo, e todos anceavam ser como ele em algum de seus aspectos. Jack tentava ser exatamente como ele em todos os aspectos, mas estava muito longe de conseguir, principalmente por lhe faltar disciplina. Jack se aproxima da mesa redonda para ver o quê estavam tramando, Jerome o cumprimenta batendo nos ombros de Jack. Jerome quase nunca falava, e quando falava o fazia de forma grotesca. A planta baixa de um edifício estava esticada sobre a mesa, e no topo do papel escrito "Asilo Kirton". - Que coincidência... - Jack pensa alto. - O quê... - Vivaldi indagava enquanto encarava a planta baixo e fitava cada cômodo desenhado. - Nada... - Desconversa Jack. - Nunca achei que roubaríamos um sanatório... - Jack estava confuso, tentando vislumbrar o quê de tão valioso teria em um sanatório que valeria o risco. - O quê vamos pegar ali? - Sem nenhuma boa opção em mente, Jack resolve logo perguntar. - Amy - Responde em seco, Vivaldi. - Oh... - Jack falava constrangido, e desconfiava dos motivos. Amanda, ou Amy, como a chamavam, era a outra membro da Irmandade que não estava presente. Amy tinha um histórico de vida muito excêntrico. Fora uma barda, uma artista de rua, e espiã de Ord durante algum tempo, até forjar sua morte e conseguir se desvincular do reino vizinho. Amy era uma jovem totalmente passional, e conseguia ser ainda mais indisciplinada que Jack, o quê causava grande dores de cabeça para Vivaldi. Amy tinha um arsenal de técnicas e conhecimentos extremamente grande e útil para a irmandade. Por terem gênios parecidos, Jack e Amy sempre demonstraram entrosamento dentro da Irmandade, e fora dela uma amizade ambígua. Mas a indisciplina de Amy era o menor de seus problemas, a jovem sofria com transtornos esquizoafetivo. Embora raramente sofresse com os sintomas de sua doença mental, quando sua condição agravava, Amy ficava totalmente perturbada, em uma situação deplorável. - Não temos tempo pra isso... - Vivaldi passa a mão sobre a planta baixa esticada na mesa e começa a enrolar novamente. - Vamos ter que fazer isso usando a força, sendo ágeis e cuidadosos... - Vivaldi deixa o papel enrolado em cima da mesa e começava a juntar seus equipamentos, guardando-os nos locais apropriados de sua vestimenta. - Por quê a pressa? - Jack sabia que Vivaldi não era adepto de fazer qualquer operação sem traçar três ou quatro planos. - Amy vai ser submetida a uma Lobotomia em torno de... - Vivaldi passa a mão no bolso e observa seu relógio de bolso. - ... quarenta minutos. - Então continua a arrumar os equipamentos. - Que bom, não? - Jack respondia confuso, e indagando se realmente era bom levando-se pelo senso de urgência de Vivaldi. - Não... Essa cirurgia é efetiva na minoria dos pacientes... Em outra minoria ela não causa nenhum efeito... E na metade dos pacientes... Bom... Na metade dos pacientes pode ter diversos efeitos negativos... Podem ter seu estado mental piorado, perder os movimentos dos membros... Ou morrer... - Vivaldi falava com bastante convicção, Jack não tinha como não acreditar que aquilo era realmente ruim. - O tratamento não vale o risco... - Afirma Jack após ser apresentado aos possíveis estados pós cirurgia de Amy. - Exato. - Vivaldi apenas confirmava. Em um curto espaço de tempo, Vivaldi, Lugos, Jerome e Jack se equipam apropriadamente para a missão conjunta e improvisada que estavam prestes a realizar no meio da noite.
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